domingo, 27 de setembro de 2015

Idepoiesis


Há algo imenso dentro de mim.
Um grito costurado dentro de meu peito.
Verme que devora silenciosamente meus órgãos.
Intrifinito.

É uma parte de minha alma,
que se faz presente ao não pertencer.
Está nas minhas veias, correndo pelo meu sangue.
 
Um líquido morno que escorre por tudo que vejo.
Indensidade que perscruta minha presença.

Eu não sei, não posso definir o que é.
Uma presença ausente, um súbito pulsar retumbante.
Uma condição física que permeia meu cotidiano.

Indivíduo paralelo que sabe mais sobre mim
do que eu mesmo.
Me faz tremer de frio, estuporar minha escuridão,
vergar meus joelhos.

A vista desliza pelos objetos inanimados,
adicionando a eles um quê de paralelo.
(a origem de um eussubmundo que tangencia meu pensamento)

Defino-me e me norteio por essa sensação de deslocado,
impossibilidade absoluta de enquadramento.
Há uma rebarba, uma presença,
a reviravolta que flutua no fundo de minha mente.

Eu posso ouvir as fragatas singrando. Quase posso vê-las.
Do outro lado do vidro, há um homem canhoto
(talvez o gauche de Drummond)
que se refestela em meus versos.

Não posso deter. Não sou forte o suficiente.
Se pudesse me definir, Este é Caio e isso aqui.
Um idepoiesis – origem inegável de uma captação incessante,
convergência na subdensidade que eu nunca soube detalhar.

Está ali. Inefável, mas presente.
São manobras quase imperceptíveis que o definem.
Lá. Latejando em minha criação, explodindo em ecos e caos.
 
 
 
Sim... Posso sentir.

 

Caio Bio Mello
27/09/2015

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