domingo, 12 de maio de 2013

O fruto criando a mãe



Depois da gestação
e do árduo parto,
quem está nos braços da semente
é a mãe recém-nascida.

Caio Mello
21/05/2013

terça-feira, 7 de maio de 2013

domingo, 5 de maio de 2013

O amor universal



Se, a qualquer dia
em qualquer lugar
a qualquer hora,
esquecermos do amor,
estaremos perdidos.

Precisamos relembrá-lo
a todo instante.
A cada abraço, a cada sopro,
a cada sorriso.

Precisamos sair diariamente de casa
tendo a certeza de que dissemos tudo que podíamos
dizer a todos que amamos.

Se, mesmo por um segundo,
deixarmos esse sentimento de lado,
nossos olhos secarão, nossos braços enrijecerão e
nossa vida estará perdida.

E então nosso quotidiano será tomado
por incertezas e monotonias.
Estaremos imersos numa existência vazia
e repleta de tristezas.

É impossível dizer que não nutrimos amor por alguém.
O amor existe dentro de nós como uma condição carnal
e cabe a nós somente aceitá-lo, senti-lo
e distribuí-lo o máximo que pudermos.

Não devemos ter vergonha de profetizá-lo,
não podemos deixar dentro do peito
o que deve ganhar o mundo.

O amor vive. O amor une.
O amor constrói pontes entre mundos e mentes.
O amor é um prazer indizível.

Amar é sentir o universo inteiro dentro do peito,
é ter em si a resposta para a vida
e a chave para vencer a morte.

Quando amamos, somos metafísicos.
Alcançamos sonhos.

O amor prevalecerá.
Quando o último homem viver seu último segundo
e for enterrado na última cova,
ainda haverá o amor.

O amor é eterno, incomparável,
altruísta, incontável e incompreensível.
Não devemos nos questionar por que amamos,
nem mesmo até quando amaremos.

Devemos aceitar o amor como um dom.
Precisamos ser sinceros com nós mesmos
e estarmos nus com nossa consciência.
Aceitando o amor, seremos maiores.

Amemos, então. Vamos amar todos os dias,
milhões e milhões de vezes.
Se regras, sem limites e sem pudores.
E, assim, seremos verdadeiramente felizes.

Caio Mello
05/05/2013

sábado, 4 de maio de 2013

Haikais escritos pela manhã



Haikai matutino

O mundo tecendo,
as coisas fazem sentido:
acorda a manhã.

Haikai onírico

Olhos tempestade
são os seus segredos lúcidos
a sonhar comigo.

Haikai café

Nossos grãos torrados
são olhos ainda insones
a velar o bule.

Haikai despertador

Então, eis o dia,
já desafiando incrédulos
a sair da cama.

Haikai da quimera contemporânea

Eu olho meu sonho.
Dragão com olhos de tigre
de terno e gravata.

Caio Mello
04/05/2013

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Ode ao meu cadáver



Vê, Caio, este é o teu cadáver.
Chega mais perto.
Olha a pele alva,
emudecida pela eternidade.

Conheces bem o jantar dos insetos.
Lembras de cada vinco,
das camadas de pele.

Não, isso não é mais teu.
Agora, voltará à terra, de onde nasceu.
Não quero saber onde andarás,
para onde vais depois daqui.

Quero que observes teu corpo defunto.
Cadavérico. Em seu princípio de nada.
Vês, Caio? Vês a profundidade da tua própria morte?

Observa que, por fora, ainda pareces inteiro.
A aparência forte, jovial. A pureza.
Mas por dentro... Está putrefeito.
Tu foste podre em vida.

Esse teu conteúdo de ser, de não dizer, de não fazer.
Tu morreste em vida para saborear a morte.
Não deste valor ao que o mundo te concedeu.
Tua soberba passou dos limites.

Olha! Sim! Olha para teu cadáver!
Agora consegues enxergar a imensidão da falta de sentido.
O âmago inefável do tempo.
Sentes a frieza da carne?

Teu corpo deixará de existir. Tuas ideias deixarão de existir.
Tuas palavras não sobreviverão ao cadenciar dos anos.
As traças devorarão os sonhos que levaste anos para montar.

Ironia das ironias... Terás todo o tempo do mundo
para assistir o desfazimento de si mesmo.
Quem és hoje, Caio? Quem deverias ter sido?

Só, num mundo de loucos e desvalidos.
Um naco de nada largado ao esquecimento.
Preciso lembrar-te de tua vida.

Antes pulsavam teus nervos... Sentias o vento.
Agora não sentes mais nada.

Não tiveste velório.
Não tiveste lágrimas.
Não tiveste saudades.
Não tiveste conquistas.

Tens a lápide.
Ela somente.
Pedra resoluta na beira do berço.

Então, me explica, Caio.
Arranquei-te o corpo. Tirei-te os nervos.
Sequei-te as lágrimas. Apaguei teus vestígios...

Neste exato momento, encaro teu cadáver enrijecido.
Esfacelei tua vida, cortei-a em cubos. Queimei teus cadernos.
Obliterei teus versos.

E mesmo assim... Há algo em ti que não posso matar.
Algo denso, profundo, infinitesimal.
Tu estás nos pequenos detalhes inalcançáveis e indizíveis.

Então... Se estás totalmente morto diante de mim,
como estás ainda falando comigo?
Tu morres. E, ainda assim, continuas vivo.

Caio Mello
02/05/2013

Contemporaneirismo



O que aconteceu com a carne, o sangue e a terra?
Nossos desejos, plastificados.
Nossas ruas, asfaltadas.
Nossos amores, metódicos.

Ignoramos o caos,
acreditando que podemos superá-lo.
Temos a certeza da ciência ,
mas permanecemos nus.

O que aconteceu com o convívio?
As mãos cada vez mais distantes,
o roubo da nossa juventude.

E continuamos presos em labirintos poliméricos,
apavorados demais para pisar na rua.
E o ladrão? E o cão do vizinho?
E as doenças? A falta de proteção?

O sexo sintético com putas virtuais.
Sorrisos genéricos e pessoas solitárias.
Os cacos do caos do vidro.

Os sonhos se generalizam, se padronizam.
São vendidos em pequenos potes,
ao lado de biscoitos com sabor abstrato de chocolate.
Tudo por noventa e nove centavos, parceláveis em doze vezes.

Nos deterioramos. O nosso prazo de validade,
estampado em nosso peito, esgota-se em poucos meses.
Depois, somos mantidos por conservantes.

Filas e sequências para esclarecimentos
e linhas de produção em massa com vícios redibitórios.
Mas os viciados somos nós.
Perfeccionistas ao extremo.

Onde foi parar o deslumbramento? O lirismo?
A alegria com a simplicidade da vida.
O voo não nos maravilha,
o sonho já não possui nutrientes.

Nossos grãos são catalogados.
Nossas raízes, hidropônicas.
Os tomates custam caro.
Frutos partenocárpicos.
A vida infecunda.

A obrigação da produção em quantindade versus tempo.
Falta de cuidado.

Onde estão as rosas e por que são vendidas em faróis?
Será que crescem nas faixas de pedestre?
Já vêm organizadas por tamanho,
cortadas e sem espinhos. Venceram o ódio? O tédio? O nojo?

E toda rosa tem seus espinhos.

O eu-número de série.
Três dois nove dois cinco meia quatro nove zero dígito trinta e dois.
Setenta quilos, vinte e oito anos, dois meses, uma semana e três horas.
Curriculum vitae parco. Muitas vivências e poucas publicações.

O homem-parecer. Numerações ignotas.
A vida como meio de transporte.
Milhões de olhares e nenhum reconhecimento.

Só mais um rosto perdido na avenida.
De noite, medo de balas. De dia, balas para conter o medo.
De madrugada, balas ingeridas com um copo de água. (e Pedro?)

A energia das hidrelétricas pós-térmicas e anti-esvaziamento.
A inundação do rio podre. Animais mortos bóiam na água.
Falta de futuro, aumentos dos juros, déficit constante de atenção,
instruído a tomar calmantes todo dia de manhã. Cuidado com os rins.

O que tens é raro e pouco. O tratamento custa caro e muito.
Podes morrer de tensão ou de inanição, por mim é indiferente.

E, por fim, a lista. Derradeira lista, última numeração.
O obituária num jornal de quinta ditribuído apenas no bairro.
Mas e o que aconteceu com a carne, o sangue e a terra?

Caio Mello
02/05/2013