quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

União

A vida sempre nos dá uma nova chance.
Um novo sorriso, um novo abraço,
uma nova ideia.

Nós só precisamos parar
e ouvir.
Silenciar os nossos demônios
e sentir o vento passar.

É preciso saber dosar a dificuldade do cotidiano.

Alguma vezes, a vida é muito simples,
somos nós que a complicamos.
Pequenos erros, desacertos. Brigas fúteis.
Não podemos perder tempo, ele é formidável.
O perdão é indispensável
e a paciência, um dom.

Em outros momentos, a vida é complicada,
e nós achamos que ela é simples.
Aquele segundo de foco, a pulsação da raiva.
Todos os dias, perdemos algo – em maior ou menor escala,
e quase sempre não notamos a perda.

Saber do equilíbrio é saber de nós mesmos.
Seremos atentos. Olhos e corações abertos.
É preciso diferenciar o que pode ser salvo
do que já não tem mais sentido.

Foco. Simplicidade.
Não nascemos perfeitos,
mas temos a capacidade
de acordar a cada dia,
de pulsar a cada minuto,
de viver a cada sopro.

Manter a calma
e remodelar aquilo que chamamos de eu,
o animal selvagem que nos doma desde a infância,
para, enfim, entender o que há nele e que habita em nós.

Caio Bio Mello
20/01/2016

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Parricídio

O poema se dirige ao poeta.

“Father?”

“Yes, son?”

“I want to kill you.”

Caio Bio Mello
14/01/2016

domingo, 10 de janeiro de 2016

Quando o poema subjuga o poeta

Há poemas que coabitam dentro de mim,
mas não tenho coragem de escrevê-los.
São ideias gigantescas, que me marcam
ou que são um tanto incompreensíveis.

Tenho medo de trazê-los à vida.
Nesses casos, não sei se estou à altura da ideia.
Ela é bela demais – e eu sou tosco poeta bruto,
que tenta fazer versos quaisquer com um pouco de sentido.

Essas palavras podem ficar dentro de mim por meses,
ou até mesmo por anos. Eu penso, faço, repenso, refaço.
Mas sem nunca deitar uma única palavra no papel.

Eles explodem dentro de mim.
Quem sou eu para tentar impedi-los de existir?
Se são bons poemas, deveriam vir à vida!
Mas não posso... Talvez eu seja fraco.

Eu não os entendo e eles não entendem a mim.
Estes são uma categoria diferente: desde o princípio,
conheço-os como poderosos.

Eles são feitos de outro modo, brotam do âmago
e mexem com minha essência. Providos de carne, biologia.
Por isso mesmo, não me sinto digno de escrevê-los.
Eles já vivem por si.

Mas eles me pressionam. Urgem pela vida.
E eu cedo, não posso negá-los. Eles têm razão,
eles estão certos!

O resultado, porém, não depende totalmente de mim.
Nunca podemos garantir o lirismo eruptivo, a perfeição estética,
a qualidade profunda da Arte.

Quando saem perfeitos, sinto-me pai orgulhoso
de crianças saudáveis, com um saboroso futuro.

Mas, por outro lado, quando saem imperfeitos...
Tenho a sensação de que falhei com eles. Mea maxima culpa.
Onde foi que errei? Escolhi as piores rimas? Perdi a métrica?
Onde está a ideia maravilhosa que me rasgou a mente por
tantos e tantos dias?

E o pior: depois de escrevê-los, não posso refazer.
Eles já existem! Que direito tenho eu
de revirar o que foi feito? Seria uma deturpação,
deformação e desrespeito!

Nesses dias, surrado e batido, recolho-me no escuro,
entristecido pela falha.

Perdoai-me pela incompletude,
não sou poeta por qualidade.
Sou por sentimento, necessidade.
E, por isso mesmo, há algo que se perde
e que nunca mais poderá ser encontrado.

Caio Bio Mello
10/01/2016

Coragem

É necessário apurar a vida.
Precisamos limpar a aquilo que é ruim,
como se tirássemos a lama de nossos corpos.

Manter os olhos abertos
para ver o que nos segura.
Só nós sabemos aquilo que nos limita,
aquilo que nos impede.

Vamos seguir o rumo,
amansando nossas quinas
e aparando nossos espinhos.

A estagnação é uma amarra intelectual.
Temos que ser exigentes, corajosos.
O mundo já está farto de falhas e lágrimas.

Todo novo começo (reprincipio)
exige um nascimento.
Se for necessário, ajoelhe, chore
e cerre os punhos. Depois, levante.

Levante e continue. Respire fundo.
Ninguém nasceu desprovido de dor
e preenchido de heroísmo.

Cada um tem sua luta diária,
seus medos e suas limitações.
Todos nós sofremos, nossos corpos sofrem.

Mas a vitória nasce da perseverança.
Da continuidade. Nós sabemos quais são os nossos sonhos,
temos certeza do alcance deles.
Temos nossos desejos preenchidos dentro do peito.

As conquistas não se fazem sozinhas.
Elas vêm da reinvenção – da evolução.

E, se não houver evolução: revolução.

O sonho deve preencher um espaço da alma
a cada noite de pouco sono, a cada dia cansativo,
a cada desejo de desistir.

Nós já nascemos com o “não” tatuado no corpo.
Se formos fracos, temos a certeza da resposta.
Então, qual o problema de tentar? Uma negativa já recebemos.
Nada acontece por acaso.
Nenhuma lenda se cria no silêncio.

A grandiosidade se cria na insistência,
na coragem, na contestação, nos músculos,
no suor e nas lágrimas.

Se for preciso sofreremos. Se for necessário,
o corpo e a alma vão se arranhar.
Esse é o alimento para a superação.
A raiva desenvolve o corpo. A dor apura a vida.
A paixão e a alegria somente se tornam plenos
quando são contrastados pela solidão e pela tristeza.

E nossos sonhos, delicados e significantes,
poderão aflorar em nossos poros.
A coragem tem um cheiro doce. Ela atrai.
Podemos farejar os corajosos de longe.

E, assim, nosso caminho será nossa profissão.
A imensidão. A vida plena de quem se sabe completo,
se sabe forte – de mente, corpo e alma.

Venceremos.

Caio Bio Mello
10/01/2016

sábado, 26 de dezembro de 2015

Jorge

Eis o cavaleiro da armadura reluzente
no dorso de sua cavalgada.
Em sua mão, a espada que brilha
e afogueia pela imensidão, desprovida de ar.

Em meio às estrelas
            Infinito céu
Brada sua luta
            Contra o fim das coisas
Pelos inimigos
            Ordem no planeta
São pequenos pontos
            Vistos qui de cima
Problemas miúdos
            Reunidos em pingos
Espada que corta
            Fatia silêncios
Crateras lunares
            E Jorge segue rumo, na profusão
do sidero-beija-flor, passeio público
conhecedor dos lunáticos

[Os pés tocam a areia
olhos volvidos para o céu
anoitece, um doce véu se propõe
o que haveria lá em cima?
Para além mar, além céu?]

Um dragão que não é garras,
não é carne, nem é fogo.

É de começo, meio e fim dragão
As escamas nascem dentro de artérias
Povoam o sangue como bactérias
Dominam e dobram o coração

Desverdade: esse monstro existe não
Nem é recheado dumas matérias
Existe só no sonho, nas pilhérias
É guarda, sopro, lato, concepção

Uma construção que o guerreiro forje
Demônio de sonho, fado e segredo
Assim por mil séculos a lutar

Mas e quem poderia adivinhar?
Que esse bicho, de tal simples brinquedo,
Só convive dentro do próprio Jorge.

Caio Bio Mello
26/12/2015

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

(flores)Ser pétala

Botão a desnudar, puerinfinito!
Esse neoprincípio de mil cores,
que brilha pirotécnico arco-amores
da cromatologia do bonito.

(flores)Ser que desabrocha bendito:
o raiar dos mundos multicolores
o sonho dos sidero-beija-flores
o nascer que floresce favorito.

Florabrir-se com olhos para o mundo,
esse novo caminho de voz doce
puerilhado em mansosa descoberta.

Para o ser que foi sem saber que fosse,
ao simples nascer em que se liberta,
semeados lábios – sorriso fecundo.

Caio Bio Mello
25/12/2015

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015