Há
poemas que coabitam dentro de mim,
mas
não tenho coragem de escrevê-los.
São
ideias gigantescas, que me marcam
ou
que são um tanto incompreensíveis.
Tenho
medo de trazê-los à vida.
Nesses
casos, não sei se estou à altura da ideia.
Ela
é bela demais – e eu sou tosco poeta bruto,
que
tenta fazer versos quaisquer com um pouco de sentido.
Essas
palavras podem ficar dentro de mim por meses,
ou
até mesmo por anos. Eu penso, faço, repenso, refaço.
Mas
sem nunca deitar uma única palavra no papel.
Eles
explodem dentro de mim.
Quem
sou eu para tentar impedi-los de existir?
Se
são bons poemas, deveriam vir à vida!
Mas
não posso... Talvez eu seja fraco.
Eu
não os entendo e eles não entendem a mim.
Estes
são uma categoria diferente: desde o princípio,
conheço-os
como poderosos.
Eles
são feitos de outro modo, brotam do âmago
e
mexem com minha essência. Providos de carne, biologia.
Por
isso mesmo, não me sinto digno de escrevê-los.
Eles
já vivem por si.
Mas
eles me pressionam. Urgem pela vida.
E
eu cedo, não posso negá-los. Eles têm razão,
eles
estão certos!
O
resultado, porém, não depende totalmente de mim.
Nunca
podemos garantir o lirismo eruptivo, a perfeição estética,
a
qualidade profunda da Arte.
Quando
saem perfeitos, sinto-me pai orgulhoso
de
crianças saudáveis, com um saboroso futuro.
Mas,
por outro lado, quando saem imperfeitos...
Tenho
a sensação de que falhei com eles. Mea maxima
culpa.
Onde
foi que errei? Escolhi as piores rimas? Perdi a métrica?
Onde
está a ideia maravilhosa que me rasgou a mente por
tantos
e tantos dias?
E
o pior: depois de escrevê-los, não posso refazer.
Eles
já existem! Que direito tenho eu
de
revirar o que foi feito? Seria uma deturpação,
deformação
e desrespeito!
Nesses
dias, surrado e batido, recolho-me no escuro,
entristecido
pela falha.
Perdoai-me
pela incompletude,
não
sou poeta por qualidade.
Sou
por sentimento, necessidade.
E,
por isso mesmo, há algo que se perde
e
que nunca mais poderá ser encontrado.
Caio
Bio Mello
10/01/2016
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