domingo, 10 de janeiro de 2016

Quando o poema subjuga o poeta

Há poemas que coabitam dentro de mim,
mas não tenho coragem de escrevê-los.
São ideias gigantescas, que me marcam
ou que são um tanto incompreensíveis.

Tenho medo de trazê-los à vida.
Nesses casos, não sei se estou à altura da ideia.
Ela é bela demais – e eu sou tosco poeta bruto,
que tenta fazer versos quaisquer com um pouco de sentido.

Essas palavras podem ficar dentro de mim por meses,
ou até mesmo por anos. Eu penso, faço, repenso, refaço.
Mas sem nunca deitar uma única palavra no papel.

Eles explodem dentro de mim.
Quem sou eu para tentar impedi-los de existir?
Se são bons poemas, deveriam vir à vida!
Mas não posso... Talvez eu seja fraco.

Eu não os entendo e eles não entendem a mim.
Estes são uma categoria diferente: desde o princípio,
conheço-os como poderosos.

Eles são feitos de outro modo, brotam do âmago
e mexem com minha essência. Providos de carne, biologia.
Por isso mesmo, não me sinto digno de escrevê-los.
Eles já vivem por si.

Mas eles me pressionam. Urgem pela vida.
E eu cedo, não posso negá-los. Eles têm razão,
eles estão certos!

O resultado, porém, não depende totalmente de mim.
Nunca podemos garantir o lirismo eruptivo, a perfeição estética,
a qualidade profunda da Arte.

Quando saem perfeitos, sinto-me pai orgulhoso
de crianças saudáveis, com um saboroso futuro.

Mas, por outro lado, quando saem imperfeitos...
Tenho a sensação de que falhei com eles. Mea maxima culpa.
Onde foi que errei? Escolhi as piores rimas? Perdi a métrica?
Onde está a ideia maravilhosa que me rasgou a mente por
tantos e tantos dias?

E o pior: depois de escrevê-los, não posso refazer.
Eles já existem! Que direito tenho eu
de revirar o que foi feito? Seria uma deturpação,
deformação e desrespeito!

Nesses dias, surrado e batido, recolho-me no escuro,
entristecido pela falha.

Perdoai-me pela incompletude,
não sou poeta por qualidade.
Sou por sentimento, necessidade.
E, por isso mesmo, há algo que se perde
e que nunca mais poderá ser encontrado.

Caio Bio Mello
10/01/2016

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