segunda-feira, 12 de março de 2012

Garoatown


Estou aqui na urbe
Ondes os pombos têm casa
Mas eu não tenho casa
Eu vivo na sarjeta

Escorrendo lerdo
Em metroviários
Anúncios partidários
Onde dançam as baratas

Roedores de champanhe
Luzes de natal
Aqui eu sobrevivo
Na Garoatown

O trânsito frenético
Marronzinhos de hidrogênio
Bueiros Aires brasileira
Terra de coroa cobre

Desci depressa as ladeiras
No corno da favela
Vi os sapos gaguejando
No bico das janelas

Óculos combustão
Ocupado o chacal
Ocupados transeuntes
Na Garoatown

Ontem tive sonho
Já postei pelo correio
Aranhas movidas a diesel
E mandei pelo meu e-mail

Eu vi ali depois
Depois de um farol
Tem um farol
Não tem mais ninguém

Eu passei na feira
Me venderam um jornal
Lá dizia acabou a vida
Na Garoatown

Acordei de madrugada
Abri olhos de vidro
Refleti na noite densa
As estrelas de silício

A minha casa tem estrelas
Elas brilham no escuro
Só fechar a porta
E ligá-las na tomada

Estou muito atrasado
Já me cansa o cobrador
Essa cobra de cimento
Injetando essa dor minha

Ninguém foge a esse cheiro
Todo dia me sinto mal
Emabalado a vácuo
Na Garoatown!

Caio Mello
12/03/2012
Para Chico Science

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