Estou aqui na urbe
Ondes os pombos têm casa
Mas eu não tenho casa
Eu vivo na sarjeta
Escorrendo lerdo
Em metroviários
Anúncios partidários
Onde dançam as baratas
Roedores de champanhe
Luzes de natal
Aqui eu sobrevivo
Na Garoatown
O trânsito frenético
Marronzinhos de hidrogênio
Bueiros Aires brasileira
Terra de coroa cobre
Desci depressa as ladeiras
No corno da favela
Vi os sapos gaguejando
No bico das janelas
Óculos combustão
Ocupado o chacal
Ocupados transeuntes
Na Garoatown
Ontem tive sonho
Já postei pelo correio
Aranhas movidas a diesel
E mandei pelo meu e-mail
Eu vi ali depois
Depois de um farol
Tem um farol
Não tem mais ninguém
Eu passei na feira
Me venderam um jornal
Lá dizia acabou a vida
Na Garoatown
Acordei de madrugada
Abri olhos de vidro
Refleti na noite densa
As estrelas de silício
A minha casa tem estrelas
Elas brilham no escuro
Só fechar a porta
E ligá-las na tomada
Estou muito atrasado
Já me cansa o cobrador
Essa cobra de cimento
Injetando essa dor minha
Ninguém foge a esse cheiro
Todo dia me sinto mal
Emabalado a vácuo
Na Garoatown!
Caio Mello
12/03/2012
Para Chico Science
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