Sinto na ponta
de meus dedos o sabor de um coração pulsante. Ele brilha dentro de meu peito,
faz girar a minha roda da alma. Faz-me homem enquanto simplesmente caminho.
Torna-me luz enquanto durmo. Elevo-me para além do mundano, para depois dos
morros que vejo no horizonte. E ali, somente ali, posso ver a poesia em seu
auge.
Olho
novamente para o mundo à minha volta. As coisas desfalecem (talvez não
propositais) todas em sequência. As nuvens corróem-se num expurgo ilógico.
Por que morrem tão cedo, nuvens? Pergunto eu.
Ó, poeta, o céu já não é mais o mesmo. Antes os homens paravam seus
dias para encarar-nos e achar em nós as mais diversas formas que pudessem
encher sonhos sem fim. Hoje... Uma nuvem nada mais é do que um conglomerado de
gotículas de água.
Mas
eu não desisto. Acredito na capacidade dos sonhos. Na certeza das conquistas.
No poder que tem o amor.
Nuvens, digo eu, e as
crianças? E os coelhos que lhes povoam o pairar? E a loucura da vida num frasco
de vidro? E eu?
Caio... Estamos aqui há mais tempo do que você pode compreender. Olha
para as pessoas, estamos bem aqui.
Mas
o mundo também era tão... Mundo. Solitário, crepuscular, insosso... Então
voltei a busca para a loucura que carrego dentro de mim. E encontrei, em poucos
segundos, uma certeza de ser feliz. Joguei no mundo diversas cores, joguei
certezas nas esquinas, joguei aquilo que vejo de bom na bondade.
Vi
a glória de mais um céu que se cruza dentro de si, entrecortado por pássaros
das cores as mais vibrantes possíveis. Eu vi... Vi o mundo por detrás do mundo,
a terra por detrás da terra, a carne por dentro da carne. Vi o avesso de um
homem cruzar a esquina de minha casa, seus intestinos sendo arrastados pelo
chão, vi o pequeno menino dar passos como se andar fosse a solução para a
guerra nuclear, vi um prédio bater asas e alçar voo. Eu vi tudo enfim, com meu
coração. E meus olhos refletiram em minha retina meu sonho.
O
sonho é real. É talvez mais real do que minha própria pulsação. Está preso à
minha alma, faz-me um transgressor do simples concatenar dos minutos. Sou, em
certo sentido, puro. Em outro, o caos. A destruição do que me ensinaram a vida
inteira.
Como se os braços pudessem tocar
o universo
e as asas bucassem sustentação
nos sentimentos
e as crianças adivinhassem o
desejo dos velhos
como num brinquedo colorido do
parque novo.
E
concluí, por fim, que a vida sem amar não é vida. A vida por simples conquista
do prazer e da alimentação é selvagem. Existência por existência... Sejamos,
então, vegetais! Diluo-me num risco irrecusável de arriscar tudo que sou por
uma paixão que consiga trazer-me de volta a mim. E, se isso falhar, terei um
sorriso escancarado no rosto de um homem que soube lutar pelo que acredita na
vida. De um homem que realmente acreditava no poder do amor em mudar o mundo.
Utópico que seja, lunático que seja, refutável que seja, serei. E só não ame
quem não tiver a capacidade de vencer o marasmo infértil da tristeza.
Caio Mello
19/03/2012
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