Roubaram-lhe o dia
e a noite tão fria
sem nem ter por quê
cegou quem já vê.
E assim, de repente,
na voz de quem mente
perdeu-se o raiar.
Acabou num bar
no meio da noite.
Te digo, se foi-te
sem familiar,
pense no solar!
O sol foi bebendo...
Não foi reverendo,
nem padre, nem bispo
que chegou ao risco
dizer para o sol
bebeste formol,
mel, pinga e cerveja
Para um pouco e veja!
Nem o presidente
notório eloquente
disse-lhe a verdade.
E já era tarde.
Ou cedo, eu não sei.
Horas não contei.
Tudo escuridão!
Meus olhos verão?
Não viram eu sei.
Mas dias contei.
Foram sete séculos
muitos foram ecos
do raiar não vindo.
E o sol extorquindo
dono botequim :
vou beber sem fim!
Não digo, não volto.
E hoje eu escolto
partido coração.
Minha condição
a nascer o dia:
ter o que teria
não fosse roubado.
Oh, sou malfadado!
Havia a senhora,
jóias na penhora,
não tinha dinheiro.
O seu tempo inteiro
quando era mais jovem,
do tempo refém,
olhava pro céu
fazia escarcéu.
Achava tão lindo
algo tão infindo!
Tanto olhava aurora
lembrou sem demora.
Foi ao bar do dia
numa noite fria.
E disse ao sol olha.
O olho sol se molha...
Fundo da retina
mas tão pequenina!
tão bela manhã
trouxe ao sol o afã.
Nós vemos de novo.
Eu, tu, todo o povo.
Sem pensar com calma
Que o raiar é nossa alma.
Caio Mello
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