domingo, 26 de agosto de 2012

Parca paúra


Decreta-se hoje o fim do medo.
Ele está abolido e, a partir desta data, será ilegal.
Não haverá mais meias palavras, nem frases quase ditas.

Cada indivíduo será dotado de uma glória interna.
Um raiar tão fresco quanto o orvalho da manhã,
tão jovem quanto o olhar de uma criança,
tão poderoso quanto as bombas nucleares.

Não será permitido deixar de dizer aquilo que os olhos
querem dizer, mas a boca não permite.
Tudo será dito. Com firmeza.
Não seremos mais somente a metade do que somos.

Nossos sonhos, nossos desejos e, principalmente,
nossos dons serão levados ao extremo.
O erro acabará se tornando uma consequência,
não um obstáculo.

Amaremos incondicionalmente.
Amaremos durante o dia, durante a noite,
de madrugada ouvindo os pássaros singrando ao sabor do novo dia.
Amaremos sem o medo de sentir o peito doer,
sem mesmo a necessidade de saber se nos amam de volta.
(e assim seremos amados eternamente)

Não teremos medo de doar,
de conquistar um pouco de si na alma do outro.

Não teremos medo da morte. Nem medo de morrer.
Viveremos cada instante ao infinito,
num eterno júbilo de saber-nos vivos.

Não teremos mais pudor.
Nada mais vai nos impedir de mostrar nossa cara.
As nossas fantasias, inclusive as mais burlescas, cairão por terra
e somente nossa face, maltrapilha e indigente, dirá oi ao mundo.

Trabalharemos de sol a sol sem ter medo de perder dinheiro,
sem ter medo de sermos enganados.
Batalharemos a cada segundo, a cada gota de suor,
a cada noite de sono passada em claro.

Faremos, finalmente, as coisas que nossa alma queria,
mas que nos proibia.
Agora somos a alma, o ânimo, o êxtase, a glória.

Não teremos medo de dar razão à paz.
Não teremos medo de mostrá-la como única verdade
a existir pelo chão, pela terra pisada.
Não teremos medo de mostrar ao próximo nossos próprios erros.
Admitiremos nossas falhas, construiremos juntos.

Acreditaremos em nossos sonhos até sermos também sonhos,
vivendo num mundo paralelo, onde uma mente alheia
nos sonhe na madrugada de inverno.

Seremos imperfeitos, falhos.
Faremos nossa caminhada, sem necessariamente saber o fim.
Porém, ao fecharmos os olhos para o mundo, abrindo-os para nós mesmos,
veremos a nós na imensidão.

E teremos vivido.

Caio Mello
26/08/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário