sábado, 4 de agosto de 2012

Lembranças da aurora


O mundo precisa de um nascer do sol.
Nossos olhos são carentes desse ilustre raiar.

Os corpos arrasados,  ainda destruídos do dia anterior,
Não têm o menor ânimo para levantar da cama.
Mas o dia insiste em começar.
Rasga o céu sem que ninguém peça.

As pálpebras, cerradas
E cobertas do orvalho da madrugada fria,
São banhadas pela luz nova.

Os mortos lentamente acordam. 
Levantam de suas camas, lavam bem os olhos.
Encaram a carne que cobre suas almas.

Resignada, a humanidade se move.
Os viventes sentem-se compelidos a seguir,
Instigados a dar aquele passo que a razão os proibiu.

E não basta apenas que o sol esteja a pino.
Não basta apenas o poderoso sol do meio dia.
Precisamos de bem mais do que isso.

Precisamos de uma luz, forte e reconfortante,
Mostrando-nos que é possível batalhar contra a escuridão,
Renascer das trevas e viver de novo.

Somos eternos carentes da aurora.
Esse momento efêmero que acontece uma vez só por dia,
Mas todos os dias desde que o mundo é mundo.

A aurora é uma poesia destilada.
Pura. Bruta. Natural.
Ela é o nascimento, a batalha vitoriosa.

Tudo que acaba de nascer é belo,
Excepcionalmente mágico.
Precisamos desesperadamente da aurora.

Porque, quando o dia nasce,
Raiamos também.

Caio Mello
03/08/2012

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