A
humanidade pensa que evolui em sentido linear. Imagina que, a cada nova geração
que passa pelo mundo, cria algo inovador. Passamos por diversos momentos de
contemplação, de reflexão, de perpetuação da espécie.
Porém,
no fundo, permanecemos no mesmo lugar. Viver mais não quer dizer viver melhor.
Conseguimos pisar os pés na Lua, conseguimos criar a bomba atômica, conseguimos
dar sentido aos prótons e neutrons. Mas não amamos mais. Não sentimos menos
dor, nem menos pesar em nossas vidas.
Vivemos
um círculo. Cada nova vida repete a vida anterior. A tristeza, o ódio, o amor,
a solidão, a alegria, a inveja, a ira, a preguiça serão sempre os mesmos. Talvez
ainda existam mais alguns sentimentos diluídos em nossos corpos que não foram
catalogados pelo nosso raciocíonio.
Não
conseguimos criar máquinas para conter a solidão. Não conseguimos criar novas
realidades nas quais todos somos felizes. Os pesares existem, eles permeiam
nossa própria vida. Pontes que cruzam oceanos não nos farão mais felizes.
Aumentamos
as nossas interações, dinamizamos nossa capacidade de interação, mas a própria interação
continua sendo igual.
No
final, enfrentaremos o mesmo fim. Permaneceremos todos ligados à mesma condição
de nosso corpo, tão propenso à destruição. Todos beiraremos a loucura, todos
perderemos um pouco de nossa sanidade tentando compreender nossa própria
existência. Trancados em quartos escuros nos submundos da consciência, teremos
medo. Muito medo. Todos os vivos sentirão o coração bater dentro do peito e
ouvirão arfarem os ossos ainda unidos. E não há máquina que mude isso.
Não
conseguimos dar vida a nada. Longe disso. Ao longo de nossa suposta evolução,
tudo que conquistamos foi a morte. Encontramos as formas mais diversas de tirar
a vida de alguém. Bombas, venenos, inanição. Aprendemos muito bem nossa lição.
Travestimo-nos
de indivíduos civilizados e saímos todos os dias às ruas, paradoxalmente
atarefados com coisas inúteis. A oscilação da bolsa, a cor da gravata, o
resultado das eleições, o resultado da equação, a fórmula matemática... Antes,
criávamos vacas. Agora, urbanos, compramos pedaços de carne no supermercado.
Mas a fome jamais se alterou.
Catalogamos
o mundo. As orquídeas, as pteridófitas, o ide, o ego, o quadrado da hipotenusa,
a ataraxia... Pensamos que, ao nomear as coisas, elas serão muito melhor
compreendidas. Concedemos nomes a tudo para que possamos enxergá-lo. Somos
cegos num mundo sem palavras.
Travamos
lutas dípares sobre ideologias, construímos casas com quartos luxosos,
trabalhamos dias sem fim. Evoluímos para a época na qual podemos controlar
nosso tempo a ponto de não termos tempo para pensar na evolução de nossa época.
Não evoluímos. Permanecemos.
Teríamos
asco de nós mesmos se pudéssemos ter uma visão interior muito mais profunda.
Nossas músicas globalizadas, nossas bebidas e drogas alucinógenas, nossa falta
de imensidão... Preferimos não pensar. Refletir é atirar-se num abismo profundo
que não tem retorno.
Pensar
sobre nosso significado é a mesma coisa que tentar encontrar a parte
indivisível da matéria. Até hoje, busca-se a partícula de Deus. Até hoje,
buscamos a parte mais ínfima de nossas sensações, de nossos sentimentos. Seria
o amor? Derivariam deste sentimento todos os outros? É preciso mesmo amar? Se
não amar, por que viver?
Não
construímos mapas que nos levassem a um grande sentimento. Não temos manual
para introspecções individuais. As estrelas já foram todas catalogadas,
desenhadas e posteriormente perdidas na luz noturna da metrópole.
Talvez
fosse o tempo de largarmos nossas vidas de mais de cem anos de idade. Talvez
fosse o tempo de regressarmos ao homem pré-histórico. Antes da história havia
uma história que não pode mais ser contada. Talvez fosse o tempo de abrirmos
mão de nosso pensar, de nossa burlesca vida. Regredir à pedra e dela novamente
derivar. Buscar no princípio de tudo uma explicação para essa bolha alucinada
na qual não evoluímos, apenas vivemos.
Caio Mello
14/10/2012
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