domingo, 17 de março de 2013

Atriz



O teatro está lotado.
Mulheres de vestido e homens de terno.
É proibido fumar no recinto.

Um burburinho abafado toma conta do local.
Ideias sobre o mercado de ações.
A luz diminui. Silêncio apreensivo.
Iluminação.

Ela sobe no palco.
Não depressa. Convicta.
Fica de pé bem no meio da vista de todos.
Ela encara a multidão sentada.

Ninguém mais conversa.
Alguém se esforça para tossir baixo,
com medo do olhar forte da moça.

Ela tira a primeira bota
puxando-a com as duas mãos, enquanto dobra o joelho.
Não perde o equilíbrio.
Atira a bota quase na plateia.

Ainda silêncio.

Arranca a segunda bota.
Atira, dessa vez para trás de si.
Está sem meias.
Encara novamente o público.

A moça avança de um lado para o outro do palco.
Desliza os pés descalços.
Não se preocupa em manter a pose como bailarina.
Anda o mais depressa que consegue.
Parece atarefada.

Volta para o centro do palco.
Rasga a sua camiseta, mostrando o sutiã.
Atira os farrapos na plateia.
Alguém se afasta do pano que cai, talvez com medo.

Ela está quase ofegante.

Abre o botão e o zíper de sua calça jeans.
Uma senhora leva a mão à boca.
A moça abaixa a calça.
Balança a perna para se livrar do jeans.

Ela desce do palco.
Encara a primeira fileira da plateia.
Um homem se encolhe na cadeira, intimidado.

Ela volta para o centro do palco.

Tira o sutiã. Atira a roupa íntima no chão
e se senta em cima.
Ajoelha-se no centro do palco.

Desliza os dedões pela calcinha.

Rasga seu último pedaço de roupa
com fúria.
Levanta-se. Fica de pé,
as pernas semi-abertas.
Encara a plateia de frente.

E grita.

Caio Mello
17/03/2013

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