domingo, 10 de março de 2013

Um



Há um ar de triste por cima das coisas.
O que o corpo não sente
e a alma não encontra,
mas o coração padece.

A solidão está vestindo preto.
Entra, feminina, e se alarga por tudo.
No restaurante, milhões de faces.
Quantos Pedros, Joãos e Marias?

Não se sabe. São inúmeras faces sem nome.
Sem sentido, sem conexão...
As pessoas padronizam-se não por serem iguais,
mas por estarem imersas no desconhecido.

O corpo se devora a cada segundo,
enquanto os sonhos padecem.
O mundo inteiro padece, corroído.
Nenhuma certeza é certeza demais.

Nada é como nunca foi.
O espírito se dobra em vinte.
A alma, estilhaçada.
As palavras não deixam o ventre...

Mas como sair a uma hora dessas?
Como verter os entendimentos mais profundos?
A musa falsa cheira a perfume.
Perto dela, não há ninguém.

Quase uma gestação inteira, no silêncio.
O grito que está preso na garganta
quase há tempo demais.
Por um segundo... Talvez se perca.

Sentado no topo do mundo,
ou jogado no fundo do poço...
Tanto faz. Eis o homem: preso em sua armadilha
sendo eterno, profano e falho.

O corpo sufoca no ar.
O vento não se respira.
Os sussurros não precisam ser lançados.
As cores esmorecem.

No meio do palco, de olhos abertos...
Ali, como o centro e o tudo e o nada.
As mãos gesticulam, mas as pernas
estremecem.

Seus olhos de vidro incandescente.
Ei-lo só.
Um.

Caio Mello
10/03/2013

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