terça-feira, 6 de agosto de 2013

Quase

Ele era um quase. 
Nem muito, nem pouco. 

Quase inteligente. 
Sabia somar, subtrair. 
Decorara muito bem a tabuada. 

Quase charmoso.
Um rosto organizado,
Que lembrava as rosas pela manhã.
Mas não muito bonito.
Os dentes um pouco tortos. 

Quase trabalhador.
Ganhava seu dinheiro em seu tempo.
Não esbanjava, nem passava fome. 

E, do trabalho, ele quase gostava. 
Não diria que não, mas nem que sim.
Era aquilo ali, ei, a vida é trabalhar também! Só não seria bom passar a vida enfiado num escritório.

Isso, jamais!

Ele era quase esportista. 
Gostava de jogar futebol.
Conhecia os dribles, jogava no ataque.
Mas os seus gols eram sempre meio mornos. 
Chutava uma, duas e achava um gol no desespero.

Ele chegou a ter uma namorada quase bonita.
Ela também tinha um rosto suave.
Dentes brancos como a geladeira da boa família brasileira.
Mas ela também tinha muitas manias. E reclamava demais que ele nunca se decidia.

Ele quase se casou com ela! 
Mas só quase. 
Na hora de colocar a certeza em jogo, virar o cheque e tomar o choque...
Quase que ele enfarta! 

Aquela, sim, foi por pouco! 

Ele era um quase artista também. 
Pintava de vez em quando seus quadros com muitas cores. 
Muitos amigos gostavam do trabalho. 
Mas não era nenhum Picasso.
Chegou a escrever poesia e fazer um blog, mas ele não se esforçava muito também. 
A criatividade vem quando quer!, dizia ele, justificando suas ausências literárias. 

Ele deixava a barba quase por fazer. 
Não queria ter a responsabilidade 
De se barbear todo dia,
Mas também não queria parecer muito largado. 
Então, fazia a barba de vez em quando, só para melhorar o look.

Outro dia, ele quase teve saudades de sua namorada 
quase bonita com quem ele quase se casou,
tendo logo depois quase um enfarte. 
Ele se lembrou das discussões que eles quase tinham 
(Porque ela queria discutir, mas ele mudava de assunto).

Sua namorada quase noiva lhe disse 
Você é o sujeito mais indeciso que eu já conheci na minha vida!! Deixa tudo pela metade!
E ele não entendeu muito bem...

O que sua quase noiva tinha lhe dito?
Ele quase chegou a responder!
Mas não conseguiu...

Ele quase abriu a boca, mas mudou de ideia. 
Porque esse conceito de indecisão não fazia o menor sentido. 

Não tem certeza quem não sabe o que faz. 
Ele sabia. Muito bem. 

Fazia tudo o quanto queria e tudo quanto podia.
Esse papo de levar tudo a cabo, a ferro e fogo, da força à náusea...
Isso é morrer quase na hora errada. 

Ele não: ia ficando por ali. 
Quase tudo não é pra sempre, não é mesmo? 

Caio Bio Mello
05/08/2013

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