Há uma casa notória
por brilhar mais que as outras do bairro.
Humilde moradia de família vasta,
pequenos cômodos forrados por sentimentos.
Na tal casa de João,
todo mundo se gosta.
A tia Roberta sempre traz sua namorada, a Joana,
pra jantar junto nas belas noites de verão.
Na tal,
os presentes trocados são abraços, beijos,
felicidades e afetos.
O findar do ano simboliza a reunião de todos
os filhos de Dona Maria e de Senhor Astolfo.
Na tal,
o amigo secreto é um trocar de risos e sorrisos,
lembranças e memórias de tempos antigos.
As meninas e os meninos correm todos
pelo estreito quintal,
como se estivessem em um enorme campo de futebol.
O jogo corre solte,
as risadas voam alto
e a bola gira rápido pelo gramado recém-cortado.
João se orgulha do que construiu e
do que constrói a cada ano.
Sua mulher, Isabela, também se alegra demais.
A casa deles está sempre cheia.
A madrugada, ainda moça,
desenrola-se como os cachos das meninas
que esvoaçam entre uma jogada e outra.
Na tal,
João faz brevíssimos discursos
nos quais pretende explicar o mundo inteiro
em cores, imagens e sentimentos.
Um gosto doce paira por cima
deste largar de armas –
o efêmero hiato do cotidiano beligerante
com o qual estamos todos acostumados.
Ali, na simples moradia,
não há espaço para discussões profundas,
nem polêmicas infundadas.
A verdade apenas existe. E todos a conhecem.
Ela mantém-se
certeira como o nascer do dia,
suave como a garoa
e perene como o ar.
Diz-se que todo mundo é
feliz na tal.
Caio Bio Mello
25/12/2013