sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A era do medo


Vivemos a era do medo.
O tempo das trincheiras cotidianas,
em que parques e lares
mesclam-se com batalhas e rajadas.

O silêncio permanece,
buscando as almas de soslaio
na espreita do espanto.

A década do ar comprimido
em cabines cerradas,
comandadas por suicidas bem treinados.

Encontramos a nefasta fusão
entre o rigor bélico e o desarmamento incauto.
Os conceitos, coadunados,
não sabem progredir de mãos dadas.

O soldado é ciente da guerra. Ele sabe de seu papel.
Militar fardado, munido de fuzil,
nunca duvida de seu destino
e lida com sua memória.

Mas não é disso que se nutre a comunidade.
As crianças, os idosos, os jovens arquitetos,
os bares apinhados de gente – eles todos
são desprovidos da carapaça
que impede os guerreantes de sentir.

A guerra de supetão não é guerra – é medo.
É o desespero repentino de corpos banhados de sangue,
da quebra da expectativa de paz
(sim, acreditamos na paz latente como um conceito universal
e vê-la derrotada nos choca assustadoramente).

Ato unilateral de assassinato, de privação de sonhos,
abafamento de vidas.
A guerra que brota no repente (no engodo e à míngua)
é covardia.

Não há motivo que justifique o estancamento de vidas
a esmo, pela aleatoriedade da mera presença
em um evento. Ninguém espera morrer sem um propósito,
não fomos construídos para isso – a doença que não vem da carne.

Atualmente, a guerra destilou-se por nossas vidas,
ganhou nossos momentos íntimos e coletivos.
O público transporte (ao trabalho porque necessitamos),
os bares, os lares, as torres, as ruas.

E, assim, permanecemos com o desconforto da paúra correndo em nossas veias,
que segreda pequenas mensagens de horror em nossos ouvidos,
que nos promete bombas em todas esquinas, explosões e aviões caindo.

E o desejo de combater – seguir adiante, abrir os olhos e sorver o ar,
para dar continuidade ao que buscaram impedir.
Para exatamente florescer o que pretenderam apagar,
no intuito constante de provar que
a guerra, que antes já não se justificava,
agora não faz mais sentido algum.

Caio Bio Mello
20/11/2015

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