Vivemos
a era do medo.
O
tempo das trincheiras cotidianas,
em
que parques e lares
mesclam-se
com batalhas e rajadas.
O
silêncio permanece,
buscando
as almas de soslaio
na
espreita do espanto.
A
década do ar comprimido
em
cabines cerradas,
comandadas
por suicidas bem treinados.
Encontramos
a nefasta fusão
entre
o rigor bélico e o desarmamento incauto.
Os
conceitos, coadunados,
não
sabem progredir de mãos dadas.
O
soldado é ciente da guerra. Ele sabe de seu papel.
Militar
fardado, munido de fuzil,
nunca
duvida de seu destino
e
lida com sua memória.
Mas
não é disso que se nutre a comunidade.
As
crianças, os idosos, os jovens arquitetos,
os
bares apinhados de gente – eles todos
são
desprovidos da carapaça
que
impede os guerreantes de sentir.
A
guerra de supetão não é guerra – é medo.
É
o desespero repentino de corpos banhados de sangue,da quebra da expectativa de paz
(sim, acreditamos na paz latente como um conceito universal
e vê-la derrotada nos choca assustadoramente).
Ato unilateral de assassinato, de privação de sonhos,
abafamento de vidas.
A guerra que brota no repente (no engodo e à míngua)
é covardia.
Não há motivo que justifique o estancamento de vidas
a esmo, pela aleatoriedade da mera presença
em um evento. Ninguém espera morrer sem um propósito,
não fomos construídos para isso – a doença que não vem da carne.
Atualmente,
a guerra destilou-se por nossas vidas,
ganhou
nossos momentos íntimos e coletivos. O público transporte (ao trabalho porque necessitamos),
os bares, os lares, as torres, as ruas.
E, assim, permanecemos com o desconforto da paúra correndo em nossas veias,
que segreda pequenas mensagens de horror em nossos ouvidos,
que nos promete bombas em todas esquinas, explosões e aviões caindo.
E
o desejo de combater – seguir adiante, abrir os olhos e sorver o ar,
para
dar continuidade ao que buscaram impedir. Para exatamente florescer o que pretenderam apagar,
no intuito constante de provar que
a guerra, que antes já não se justificava,
agora não faz mais sentido algum.
Caio
Bio Mello
20/11/2015
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