domingo, 22 de novembro de 2015

Pueribélia


Vocês,
seres de xenofobia, ódio e intolerância,
façam sua guerra longe das crianças.

Os pequenos não têm culpa pelo racismo,
suas ideias conservadoras ou totalitárias.

Não destruam os lares, não interrompam os estudos,
não façam perder o que apenas principia.

Guardem seus discursos de ódio
para quem também já odeia.

As crianças têm o direito de optar,
têm a liberdade de aprender para além das doutrinas
e a capacidade de sonhar
como nenhum adulto mais sonha.

Nós não nascemos imbuídos de preconceito,
não somos preenchidos com dogmas
assim que rompemos ao mundo.

Não há leis, nem códigos, nem doutrinas.
As crianças têm o direito de um novo princípio,
têm a possibilidade de refazer o que se perdeu.

As guerras não devem furar os muros das escolas,
nem queimar os livros,
ou silenciar os risos.

Cada novo combate que os alcança,
repercute por uma geração completa
e mutila sonhos desde a raiz.
 
As crianças de guerra são pequenos adultos,
desde logo acostumados com a morte,
com o sangue e com o desespero.
Os olhos brilham de modo diverso.

Aquilo que se percebe os amadurece
como um pássaro ainda
sem penas que se obriga a voar.

E preenchem o mundo
com verdades delicadas por quem
foi obrigado a entender
o ódio antes mesmo
de conhecer o amor.

E, anos depois,
talvez quando amem
(ou quando ensinem ou quando lutem)
farão de seu verbo
curto desmatamento (das flores que murcharam)
de quem teve que, ainda tenro,
aprender a sobreviver.
 
Caio Bio Mello
22/11/2015

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