terça-feira, 12 de outubro de 2010

Cascata distraída

Quisessem os laços me dizerem o que sou e o que deixei de ser. Hoje sou muito, sou forte. Mas o que é ser? Ser é um estado, um regozijo, uma força, uma tendência introspectiva de expulsão do âmago inconstante. Ato de amar a vida, amar a si próprio, existir. Continuar respirando quando a morte poderia ser a outra opção. Mas, também, o que é a morte? A morte é só uma pergunta: o que vem depois? E, se tivesse resposta, faria a vida inteira peder a graça. E ter graça é o ponto crucial da máquina de sonhos em que vivemos. Vivemos porque somos feitos de estrelas. Somos do mesmo produto que o céu inteiro, num jofro infinito de cadências incalculáveis. Nada cabe num cálculo. Afinal, as contas servem somente para apaziguar a lógica do homem. Na verdade, não preveem a doença, não impedem a morte, não param os aviões de cair, não param os carros de bater. O aço se amassa e enlouquece. Foi para isso que ele foi feito. Os moldes são torneados para deixarem de existir. E, se hoje existo, é mera coincidência da vida sobre o que poderia ter sido. Mesmo assim, minha existência é calculada, é perfeita, é o elo que transpõe o abismo que há entre os sentimentos e o mundo concreto. Viver é conseguir sentir o amor, é conseguir pulsar o sangue para fazer com que as faces fiquem rosadas. Somos porque devemos ser. Ser o somos; e o que seríamos se não fôssemos não importa.

Um dos caixas eletrônicos torna-se vago e ele vai até ele.

Caio Mello
12/10/2010

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