segunda-feira, 2 de maio de 2011

Fênix

A solta vontade voa por entre sentimentos. Tem ela asas laranjas, com pontas pretas. Enlaça os sonhos, roda pelos desejos, pousa no topo da vida. E as montanhas lhe dizem sim. Sim. Sim, hoje mais um dia. Mais uma batalha. Mais um momento a ser recordar no futuro. Transforma-se ela numa onça que corre rápida pelos campos, amarela de dia, preta de noite. Ao longo da tarde suas pintas tomam conta de seu corpo. Sobe nas árvores, caça os animais. Seu rabo ricocheteia livre pela mata. Seu rugido pode ser ouvido de muito longe. A mutação vai perfurando sua alma. Agora a onça é um coração.
Ele pulsa. Pulsa. Pulsa. Jorra sangue para o corpo todo. A carne é só mais carne. Mas o coração bate. Bate forte, bate de frente com as tristezas, bate rápido quando ama, bate fraco quando sente-se solitário. Então o coração solta sangue para si mesmo e acaba por se devorar.
Dos destroços mastigados brota mais uma quimera nesse mundo. Olhos de leão, juba, ombros largos... Asas de águia, rabo de dragão. A forma não se torna completa nem por um instante. É feita de raiva, angústia, desejo. Batalha com seus novos rugidos, voa num planar incessante, cospe fogo. Queima o mundo, a vida, a morte, os pensamentos. Porém, uma chama sai do controle e queima também suas asas. O animal cai no chão, desfalecido.
Da carcaça recém descoberta surge um choro suave. Não é um choro doído, não é um grito de desespero. É uma criança recém-nascida que só quer descobrir o mundo. Nua, abre seus braços e luta para conseguir ver melhor a maravilha da vida. Seu rosto é suave, seus detalhes ainda são redondos. Parece tranquila. O sol marca-lhe desde logo a face. E nas suas costas o desenho do pássaro continua livre.

Caio Mello
02.05.2011

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