UMA PÁ DE TERRA
Rijos os membros. Os
dentes ainda alvos. Dedos enegrecidos.
UMA PÁ DE TERRA
No bolso do paletó,
ainda há o último maço de cigarros que nunca serão fumados.
UMA PÁ DE TERRA
UMA PÁ DE TERRA
Triste fim para
aquele homem. Em vida, olhos sempre abertos.
UMA PÁ DE TERRA
Sem caixão. Sem
amigos. Sem vontades. Sem reflexos. Sem dinheiro.
UMA PÁ DE TERRA
UMA PÁ DE TERRA
Nem mesmo um cão que
lhe velasse a última valsa dos defuntos.
UMA PÁ DE TERRA
Eis o caminho inteiro.
Em idas e voltas. Tudo um grande teatro.
UMA PÁ DE TERRA
UMA PÁ DE TERRA
Nem mesmo o comércio
da rua em que morava fechou as portas no dia em que morreu.
UMA PÁ DE TERRA
A morte seria apenas
a continuidade de seu estado catatônico.
UMA PÁ DE TERRA
UMA PÁ DE TERRA
A barba por fazer
agora não precisaria mais ser feita. Mediana inexatidão.
UMA PÁ DE TERRA
Seu último desejo foi
para ser enterrado com garrafas de uísque, para matar as saudades.
UMA PÁ DE TERRA
UMA PÁ DE TERRA
O besouro coveiro
pretensioso, ali por perto, feliz com um enorme parque de diversões.
UMA PÁ DE TERRA
Nada de léxicos,
alfarrábios, trompetes, canhões, lágrimas ou sermões. A morte.
UMA PÁ DE TERRA
UMA PÁ DE TERRA
Já quase não se vê o
corpo de tanta terra.
UMA PÁ DE TERRA
Do pó de suas narinas
para o pó da terra.
UMA PÁ DE TERRA
UMA PÁ DE TERRA
Os olhos vermelhos
nunca mais pousarão vista no mundo.
UMA PÁ DE TERRA
Um dedo flutua por
cima da terra.
UMA PÁ DE TERRA
UMA PÁ DE TERRA
Uma pequena pausa
para nivelar o piso.
UMA PÁ DE TERRA
A terra que se cava
nunca é suficiente para tapar o mesmo buraco.
UMA PÁ DE TERRA
UMA PÁ DE TERRA
Morto.
UMA PÁ DE TERRA
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UMA PÁ DE TERRA
Caio Bio Mello
21/01/2014
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