domingo, 5 de junho de 2011

Emaranhado

É algo interrompido, desconexo. Não possui nem meio, nem fim. Apenas um começo. Um início deslumbrante e nunca acaba. Nunca mais. Essa sensação de infinito, de imensidão, de estrelas. Um pensar que subjuga as outras ideias, que impede nossa mente de fugir para onde desejam os tecidos.
Mas, também, é simples. Falho, com toda certeza. Bambo, amedrontado. São dois pés idênticos de uma pequena criança que arrisca seus passos iniciais. E será sempre um princípio. Vinte anos depois, ainda será um princípio. Terá junto aquela pele suave, aquele olhar brilhante, desejoso da vida.
É uma manhã de sol que brilha laranja, mas que ainda não fez despontar seu calor vindouro. Esse querer latente, sempre construtivo e nunca conclusivo. E o cheiro do orvalho faz-se doce aos ouvidos. Os troncos meandram-se, deslimitam,-se, retornam. Somos, sim, raízes invertidas.
Indelével, com certeza. Inegável também. E inconstante. Possessivo, delinquente, destemido, desmentido. Desejado bilateralmente, unilateralmente ou plurilateralmente. Concepção de asas abertas, desejosa de abarcar todos. É infame, cruel, sussurado ao pé dos loucos e ao abraço dos idosos.
É uma ode. Ou até uma elegia. É, ao mesmo tempo, o conteúdo perfeito para um soneto. Para infinitos sonetos, para a falta de lógica em suas definições. É a estupidez do homem tentando padronizar o intangível. Mas é impossível negá-lo! Não há como a poesia não encher-se dele, não compadecer-se dele, não subordinar-se a ele.
A poesia é inundada por ele. É o estofo macio do urso de pelúcia. Por caminhos nunca antes trilhados, pisamos nas pegadas de nossos antecessores. É verdadeiro somente quando falho. Quando cristal. Transparente, translúcido e ruboramente opaco. Pisca aos fins de semana.
Não é nada. Invenção do homem para vender mais chocolate nas datas festivas. Mero paliativo para não encararmos as mazelas sociais. Nem devia ser mais que isso. Já que é o mundo inteiro. É a poeira que se junta embaixo da cama por mais de um mês. É a mola quebrada que insiste em ranger. É o sorvete. É o cachecol. Parafusos também.
E a obrigação faz-se latente. Que me perdoem as colunas gregas. Erro, sei. Mas justifico-me pela condição humana na qual me encontro. Escuso-me nos meandros de meu próprio sangue. Limito-me apenas pela minha capacidade de escolher as palavras certas, pois liberto-me para dizer o que quero, como quero e quando quero. E, assim, as palavras abrem sorriso. Porque foi para exatamente isso que elas nasceram.

Caio Mello
05/06/2011

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