terça-feira, 7 de junho de 2011

Objeto de análise

Ando louco.
Devora-me uma tentativa de definição,
sempre incompleta.

Parece-me que as bordas nunca estão certas
e, a cada noite,
a definição tranforma-se em novidade.

Esse delineamento que busco
sei ser impossível,
porém não posso abrir mão.

Pararam-me todas as outras palavras.
Calaram-se todos os outros verbos.
Já não penso.

Estou fraco, deserudito.
Meus olhos pesam hoje.
Não me vêm palavras à mente.

É só nisso que penso.
Como? Como? Como?
Quais vocábulos me serviriam agora?

Céu? Lua? Estrela? Lobo?
Deus? Dor? Imensidão?

Há tanto já dito
e, mesmo assim,
não me disseram nada.

Busquei no fundo da minha alma
a certeza que me coubesse.
Mas encontrei cicatrizes e calos.

Revirei um monte de colchões antigos
e encontrei aranhas recônditas.
Já carrego bastante coisa.

E o que carrego faz parte de minha definição agora.
O que defino altera-se a cada instante,
a cada suspiro, a cada sopro.

O sopro da vida, do barro ao homem.
Eu sou barro e bárbaro
e vou morrer barro.

Nem os meus sonhos mais possuem resposta
eles povoam-me com pássaros com estrelas
em seu estômago.

Mas ninguém me explica.
Ninguém define,
ninguém desmente.

No fundo, no fundo,
acho que sei por que não consigo
enquadrar uma só definição.

Na verdade, não quero definir.
Quero apenas ter mais tempo e mais desculpas
para pensar e nunca mais achar a volta.

Caio Mello
07/06/2011

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