sexta-feira, 6 de abril de 2012

Bege e tons de marrom


Ele queria ser.
Talvez muito, talvez hoje.
Quem sabe, um dia...

Ele devia ser. Já foi.
Ser? Hoje será. Será?
Amanhã ainda acontece.
(ou talvez já se tenha terminado)

Ele, pequeno claustro ignoto,
é mera fibra que encontramos em tecido.
Rendado através do tempo e do destino,
o mundo ainda pouco sabe de sua carne.

E a carne verte sangue ao chão.
O escarlate da madrugada,
o rubi do marajá.
E isso tudo no segundo tempo.

Ele é o farol da praia,
a raia no fundo do mar,
amar de um pêssego absorto,
morto corpo à deriva putrefazendo-se no oceano.

Velejador de grandes oceanos.
Mero reflexo de uma caixa fechada.
Esta, pobre, guarda em si diversas tristezas.
Antes: medos. Sim, inexorabilidade do suar frio.

Ele preocupado.
Tem necessidades. Tem um corpo, tem um copo, tem um oco.
Precisa de carne e da carne nasceu e da carne viverá e a carne buscará.
Seus vidros não são cristais.

Ali, dentro de labirintos beges e com tons de marrom,
perde-se por horas e horas e horas e horas e horas.
Encontra furtivamente uma palava
Olha, hoje tu paras e escrevers aquele lá.

Mas o que há de ser escrito jamais se torna palavra.
A palavra é que se torna em o que há de ser escrito.
Entorna e entoa. Encanta. À toa.

Um dia ainda acorda sem medo de abrir os olhos
e com o corpo descansado.
Um dia ainda escancara um sorriso
e ignora tudo que se basta neste mundo.

Caio Mello
06/04/2012

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