O
mundo desaba em frente ao meus olhos. Não posso fazer nada. Não posso reagir,
não posso relutar, não posso deixar de perceber. Ele se desfaz. Aos poucos. Eu,
tão simples como a terra, como o asfalto, como a mesa de centro da sala de
estar, sinto-me cansado. Mas, dessa vez, é uma sensação boa. A vida feita por
etapas. Sento-me na beirada da minha cama. Tiro os sapatos. A camisa social.
Sinto a minha humanidade correndo por mim. Então largo-me na minha mais completa
loucura. Minha insanidade da carne, da alma, do corpo inteiro. Ali, perdido.
Como se a vida não tivesse qualquer propósito, nem razão para ter realmente um
propósito. Presto atenção em mim mesmo. Aos poucos, retiro o que me cobre. A
realidade inteira, um mundo encoberto por mim. Jogo nas paredes de meu quarto o
que sou. Enorme, não mais anatômico. Meus pensamentos borram a parede branca.
Tiro de mim mais e mais partes, desmonto-me. Livre, sou. Uma existência tão
real quanto deveria ser, um queremente de homem... Homem. Como o não definir
daquilo que não existe para ser definido. O que não há, o que não se sente, o
que já se sentiu e o que vamos sentir ao longo da nossa vida. Eu sinto,
principalmente. Sinto os elefantes pairando no ar numa megamassa de existência
recorrente. Sinto esse lado incrível das coisas não vistas. O metal de nossos
ossos. A mente cheia de ideias, milhões delas. Perco-me em minhas ideias, perco
o controle sobre tudo. Perco-me de mim mesmo. Sinto que já não tenho mais posse
daquilo que poderia se dizer como posse. Como posso? Quem pode? Vou para a sala.
Ao trazer-me de volta, afogo algo no fundo de um poço. O que não poderia ser
mais escrito, o que não poderia mais fazer parte de algo que um dia será
escrito. As palavras perdidas não devem ser mais resgatadas. Devem ser deixadas
para trás. Elas existirão, com toda a certeza. Existirão dentro de mentes,
entremontes e manadas e nós e nunca. Elas serão as palavras que quereríamos ser
se não fôssemos o que somos agora. E eu diria... Algo em comum. Algo incomum. Mas
não digo nada pela desnecessidade de se dizer alguma coisa. Penso. Logo mais,
largar o que há de real no sonho. Atingir a verdadeira irrealidade. Ir além do
real no imagético. Atingir o irreal no irreal. Finalmente alcançar algo que
fuja completamente do padrão vigente de se enxergar as coisas. Vou matar minha
consciência. Matar o que há de se limitar. Afogar meus preconceitos estúpidos,
assassiná-los a sangue frio. Esquartejá-los para ser melhor. Esquecer minhas
mãos, meus pés, tudo o que sou para ser o completo irreal. Então, a sala já nem
sequer existe mais. Existe o sonho. Enorme. Gigantesco. Infinito.
Levanto-me
e vou jantar.
Caio
Bio Mello
20/09/2013
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