sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Ao chegar em casa depois do trabalho



O mundo desaba em frente ao meus olhos. Não posso fazer nada. Não posso reagir, não posso relutar, não posso deixar de perceber. Ele se desfaz. Aos poucos. Eu, tão simples como a terra, como o asfalto, como a mesa de centro da sala de estar, sinto-me cansado. Mas, dessa vez, é uma sensação boa. A vida feita por etapas. Sento-me na beirada da minha cama. Tiro os sapatos. A camisa social. Sinto a minha humanidade correndo por mim. Então largo-me na minha mais completa loucura. Minha insanidade da carne, da alma, do corpo inteiro. Ali, perdido. Como se a vida não tivesse qualquer propósito, nem razão para ter realmente um propósito. Presto atenção em mim mesmo. Aos poucos, retiro o que me cobre. A realidade inteira, um mundo encoberto por mim. Jogo nas paredes de meu quarto o que sou. Enorme, não mais anatômico. Meus pensamentos borram a parede branca. Tiro de mim mais e mais partes, desmonto-me. Livre, sou. Uma existência tão real quanto deveria ser, um queremente de homem... Homem. Como o não definir daquilo que não existe para ser definido. O que não há, o que não se sente, o que já se sentiu e o que vamos sentir ao longo da nossa vida. Eu sinto, principalmente. Sinto os elefantes pairando no ar numa megamassa de existência recorrente. Sinto esse lado incrível das coisas não vistas. O metal de nossos ossos. A mente cheia de ideias, milhões delas. Perco-me em minhas ideias, perco o controle sobre tudo. Perco-me de mim mesmo. Sinto que já não tenho mais posse daquilo que poderia se dizer como posse. Como posso? Quem pode? Vou para a sala. Ao trazer-me de volta, afogo algo no fundo de um poço. O que não poderia ser mais escrito, o que não poderia mais fazer parte de algo que um dia será escrito. As palavras perdidas não devem ser mais resgatadas. Devem ser deixadas para trás. Elas existirão, com toda a certeza. Existirão dentro de mentes, entremontes e manadas e nós e nunca. Elas serão as palavras que quereríamos ser se não fôssemos o que somos agora. E eu diria... Algo em comum. Algo incomum. Mas não digo nada pela desnecessidade de se dizer alguma coisa. Penso. Logo mais, largar o que há de real no sonho. Atingir a verdadeira irrealidade. Ir além do real no imagético. Atingir o irreal no irreal. Finalmente alcançar algo que fuja completamente do padrão vigente de se enxergar as coisas. Vou matar minha consciência. Matar o que há de se limitar. Afogar meus preconceitos estúpidos, assassiná-los a sangue frio. Esquartejá-los para ser melhor. Esquecer minhas mãos, meus pés, tudo o que sou para ser o completo irreal. Então, a sala já nem sequer existe mais. Existe o sonho. Enorme. Gigantesco. Infinito.

Levanto-me e vou jantar.

Caio Bio Mello
20/09/2013

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