sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Biossímio

O mundo, senhor Macaco? Como eu posso explicar pra você o que é o mundo? Ele é um bicho. Grande, diferente. Não é bicho feito bicho, eu e você. Mas é também carne. Vivo. Parece coisa do mato. Ele é duro. Muito perto de uma sensação de pedra. Aquele lado meio rocha que todo mundo tem. Mas, eu sei lá, Macaco... Não pensa muito no mundo agora. Já tá tarde e você precisa ir dormir. Amanhã é outro dia, cheio de tarefas, momentos e loucuras pra se conhecer. Macaco, se eu fosse você, não me importaria assim tanto com as definições. O mundo é mundo e pronto. Deixa ele lá e você aqui. Não fica assim tanto nessa esquisitice de gente jovem querendo saber de tudo, mas sem fisgar nada. A isca somos nós, a gente que é a comida do peixe. Isso sim. Além de tudo, esse mundo que eu te falo sou eu também. Um biomundo. Inserido no crânio de um imbecil qualquer que não sabe nada direito. Ah, Senhor Macaco, você vai entender, né? Não fica assim pensativo. O mundo é mundo desde que a gente se sabe por vivo. A gente nasce no mundo, na terra. E até quem já saiu da terra não deixou o mundo. Porque a gente não pode deixar o mundo pra trás. Ele é a gente também. Eu sou mundo. Você é mundo, Macaco. É hemisfério norte de seu meridiano. O mundo é plástico bolha. Desconstrucionismo criativo de um qualquer por aí. Um que diga de mundicionamento das nossas verdades. O mundo mundano. Mundo mudando, mudo em seus pesares. O mundo é carne, eu digo. Macaco! Mundo que é mundo mesmo, se preza. Sim. Se preocupa. Quando come e quer falar de boca cheia, tapa a boca com a mão e depois pede desculpa por ter feito isso. O mundareco, mundateco nosso. Pedaço de lama no nosso quintal, necessidade nossa de cada dia por oxigênio. O mundolho gigante que se perde na linha do horizonte. E lá vou eu me esticando até não poder mais! Eu maismeio de mim até desmaiar! O mundimensidão diurna. Dez verdades no caminho pro trabalho. E a mesma música de Caetano correndo de fundo pela cabeça, como um replay em looping "Já descrente de um dia feliz". E de lá me arranco da cama, mais pelo susto do que pela necessidade. E, lá, o mundolistadeafazeres me espreita. "Vai, Bio, larga essa preguiça e sai dessa cama". E eu me levanto. Como, escovo os dentes, me visto. E o mundial movimento toma ruma, como se eu fossezinho aquele nada do cotidianão. Todo mundo junto. Todo mundo. Junto, parece multidão. Multilados mutilados. Mas seperados... Cadê todo mundo? É muninguém, muito pouco pra sobrar. E eu... Poxa, Macaco. Vamo parar com isso vai. Já expliquei o que é mundo. Defini, sequelei... Mas foi você quem pediu. E o mundo chega em casa para o jantar. Ali, sozinho. Já tarde de noite. O recheio do dia foi só um fecho naquele momento. Uma comida meio sem gosto posta por mãos próprias de vida ladina. As mãos que suportam o mundo! As costas! Atlas, atlas, atlas.... Mundatlas de joguinhos amargos. O mundo interruptor. Agora ligado. Agora desligado. O novo mundo virtual. E o real... Nem existem mais palavras. São bites, bifes e bofes em preto e branco. O mundo escuro. O mundo escuridão. Mundaralho maldição. A vontade de vomitar em cima de tudo. Nas gentes, nas mentes e nas náuseas. O mundo, Senhor Macaco, é tão grande que consegue deixar as pessoas muito, muito sozinhas. Elas precisam de outras pessoas, mas não as encontram. E jamais se encontrarão. Serão esses pseudomundosunitários. Como os pacotes de alfajor. Chegam sempre em unidade. Coitados dos alfajores, nunca têm amigos em suas caixas. Assim é o mundo. Pequenos frascos de vidro. Já pensou? E neles cabe a loucura da vida. Uma só. Sozinha, única. Perdida, desprendida, desgarrada. O fim do mundo. Aquela queda final num precipício, Macaco! Quando tudo acaba e não sobra mais pé sobre pé pra contar história que seja sobre como era o mundo. 

E é só isso também. Por favor, não me pergunta mais. O mundo é mundo é já é bom o suficiente ser assim. Pra não dar uma de universo aqui pro nosso lado. 

Agora vai dormir. 


Caio Bio Mello
19/09/2013

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