domingo, 8 de setembro de 2013

As coisas



Eu vejo as coisas.
As coisas me veem.
Nós todos. Unidos.

Não as procuro, não as conheço.
Não desejo detruí-las em mim mesmo.

Desejo-as assim. Completas. Nuas.
Pronfudamente banais.

Pois que sejam coisas duras como rocha,
impenetráveis como o coração do homem cego pelo vício.
Desejo as coisas em seu estado de não-observância.

Tento sugeri-las de soslaio. Aos poucos.
Como se pudesse senti-las ao invés de pensá-las.
Cheirá-las ao invés de vê-las. Sê-las ao invés de cogitá-las.

Eu invejo as coisas em sua crueza.
Não posso ser como elas. Ao ser, existo.
As coisas, ao não pensar sendo, não são pensantes.
Mas são de verdade.

São, talvez, mais reais do que mim mesmo.
Meu corpo estúpido jogado ao chão.
O que seria eu? Um simples erro efêmero
que, em tempos mais ou em tempos menos,
deixará o mundo (das coisas).

E elas restarão. Como o pó na estante.
Como a calçada rachada na rua debaixo.
O sapato roto no lixo, despejado como ingrato inquilino.

As coisas. Sim, coisas!
Em seu estado natural. Estáticas, porém cinéticas.
Frígidas, porém verdadeiras.
Possuem uma veracidade que me assusta. Que me oprime.

Sou coisa? Se penso, sou o pensar?
Se sou pensante, seria falta de coisas?
Eu não consigo ser primordial.
Alaguei-me em mim mesmo.

Afoguei-me em aforismos banalizantes
que julguei serem sérios. (mas não sou)

Eu, imbecil. Estúpido.
Poderia ter permanecido coisa,
mas caí no erro de nascer humano.

Caio Bio Mello
 08/09/2013

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