quarta-feira, 6 de abril de 2011

Quinze minutos

Quinze minutos para fazer um poema.
Só quinze, mais nada.
Rodas correm,
motores rugem.

Pés passam, ilimitados.
Em pares, em muletas,
em sapatos, em solitudes.

O que? O que? O que?
Não aguento o andar do tempo.
Passa, não me deixa respirar.

Aflito, afoito, afônico.
Minha mão permanece inerte.
Minha mente há muito
tornou-se repetitiva.

Será que morreu em mim o verso?
Será que calei-me sem o saber?
Será que nunca mais conseguirei
abrir rimas como sem abrem as manhãs?

Minha criação nunca foi nada.
Nunca teve pretensão de ser.
Então, se deixar de ser para todos
e ainda ser-me maravilhosa,

ainda terá seu mérito.
Bom, que me venham
os versos no momento propício.

Ainda mais doze minutos...
E agora?
Deixo a ideia de lado?
Começo uma nova?

Impossível lutar
contra a objetividade dos relógios.
O lirismo era muito mais vivo
antes do homem contar o tempo.

Antes contávamos histórias,
agora contamos o tempo.
Que pena.
Tanto desperdício.

Cremos estar usando o tempo
ao decidirmo-nos por
distribuí-los igualmente
ao longo de segundos.

A falácia moderna
do time is money.
Times has corrupted my poetry.
And has given me no money.

O tempo cura por si só,
ele não cura por ser contável,
nem por ser finito,
nem por ser inteligível.

Táimi is mônei.
Or nóti.
Dez minutos.

Dez minutos
dez versos
dez segundos
sete suspiros.

Pensa, pensa, pensa...
Como fala essa gente,
não dá pra pensar...
Como faz barulho.

Mas a poesia é também
barulho.
Incomodada pelos
efeitos incalculáveis.

Já sei. Vou parar de escrever
por três minutos pra ver
se tenho um ideia.
Aguentei quinze segundos.

Guardo-me, então,
para pensar em outra hora.
Agora que fique o silêncio das palavras
em luto às histórias perdidas
que os homens deixaram de contar.

Caio Mello
06/04/2011

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