O estádio laranja
levantou suas pernas
e caminhou
até o descampado logo em frente.
A calçada magra
cantava a incerteza
de continuar suja.
As estrelas caíam e abriam
rombos enormes no chão.
Eram tijolos
cobertos por terra.
Os carros tinham asas
alguns até saíam do chão.
O mundo girou mais uma vez.
Perplexo eu.
A pequenez dos contos
desabrochou perante meus olhos míopes.
Eu, de vistas erradas, usava óculos.
Era, enfim.
A implosão permanente
do espaço perdido.
O carro era casa, era carro, era coco.
Era pouco. E eu, muito.
A água refletia meu rosto.
E o mundo era verde.
Verdejou novamente o campo.
Dependurava-me do parapeito do mundo
com os dizeres simples
de frases antigas.
Mas era um passado que me trazia conforto.
Era um passado que apoiava o presente,
não era um passado nostálgico e opressor.
As árvores vergavam e as folhas caíam.
Das coisas já sabia eu.
Talvez pouco, talvez em falta.
Mas já sabia.
E lutavam contra minha mente.
Duvidavam-na.
Bendiziam os alucinados.
Louvavam os desequlibrados,
cantavam os loucos.
Eu também era louco.
Só eles que não sabiam.
Eu, em minha pífia condição,
jamais poderia ser louco.
Sofri dupla opressão:
em minha classe, eu era um sóbrio
para os outros, eu tinha o aspecto alucinado
de alguém em eterno estado de abstração.
Alguma coisa sabiam de mim as pessoas
tantas pessoas! Tanta gente...
As grades formavam barcos brancos.
“Na vida perdida, perde-se a barca da vida.”
Eu reconstruí o mundo como quis.
Não foi difícil.
O que eu via era o que eu queria ver.
E, ao ver, eu o tornei real.
E, de tão real,
os outros passaram a acreditar em mim.
E foi assim que segui em frente.
Caio Mello
25/04/2011
Adorei!
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