domingo, 10 de abril de 2011

Zelito way of life

Zelito foi para São Paulo fugido.
Deixou pra trás um filho e um saco cheio de erros.
Na capital, estava protegido.
Nada mais fácil do que ser ignoto no desterro.

Mas o que fazer da vida?
Fazia muito tempo que não trabalhava.
E na sua mala só de ida
muito dinheiro não guardava.

Mesmo porque ele não tinha dinheiro pra guardar.

Um dia, andando pela rua
Zelito um pandeiro viu.
Perguntou isso aí é coisa sua?
Mas ninguém lhe ouviu.

Decidiu levar embora
o seu mais novo colega.
E já era mais de hora
de mostrar o que se pega.

Arranjou um cantinho só seu na Avenida Paulista.
Milhões de carros, máquinas, luzes, Mercedes...
Começou a fazer um ritmo.

Eu sô lá de meu Sertão
Sô fugido retirante
Sô fudido pobretão
Por favor me seja amante

Ame mais esse coitado
Que de poco não morreu
E mi dê o seu trocado
Esse troco que sô eu

Trago verso lá de cima
Pra cantar aqui embaxo
Trago verso mudo clima
Pra dizer o que é que acho

Ô seu culto motorista
Vê se pode abrir a mão
Não me passa só de vista
E me abre o coração


São Paulo. A urbe desvairada. Mendigos povoam suas curvas, baratas povoam seus ralos. Gélidos transeuntes povoam suas tocas. Uma grande massa cinzenta que por vezes esquece o resto do mundo. Um jogo engraçado entre ser muito importante e não ser ninguém. A falta de tempo pelo jargão do time is money. Algumas pessoas vivendo de favores, outras vivendo de usucapião. E o governo fingindo obedecer à responsabilidade fiscal.

Em pouco tempo,
Zelito arranjou plateia.
Não era muito difícil arranjar
gente para ouvir.

Tudo o que ali se tocava era em inglês.
Falar uns versos em português
parecia algo
importado.

Fez tanta fama o rapaz que
acabou gravando um disco.
Conseguiu dinheiro,
foi morar no Morumbi.

Tomava vinho português
Comia queijos franceses
Linguiças alemãs
Bacalhau com azeite.

E, depois de tudo isso,
só se ouvia ele cantar:

Hey babe, como anda a sua vida?
All right, eu me sinto super cool, cool.
E vamos nessa que eu tô de partida.
Hey! O Mambo da América do Sul!

Vem andar comigo pela Paulista
Vou botar os meus óculos escuros
Yeah, vem andar e ver a bela vista
Vem ver as flores plantadas nos muros.

Loira, me traz esse seu corpo branco
Sou homem straight, eu sempre sou um franco
Sempre no fundo serei goat da peste

Babe, aproveita o meu fast way
Você gosta de mim, eu sei, eu sei.
O sangue hot que veio do Nordeste.


Caio Mello
10/04/2011

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