Volta pra cama, Bio.
Não, não quero. Me deixa.
Por que cê tá de pé perto da janela?
Me deixa, Influenza. Se eu me deitar com você, cê vai me fazer acordar
no meio da madrugada com a garganta doendo. Eu vou pular da cama, sem ar. E
você aí fazendo graça.
Nossa, quanta agressividade pra um cara só. E tem mais: eu sei o que cê
tá procurando na rua... Gente.
Olha, H1N1, cê não ajuda ninguém e não serve de companhia pra ninguém.
Pelo menos na rua tem coisa acontecendo.
Mas a janela tá aberta. Entra frio. Dá dois minutos e cê já vai começar
a tremer. Ainda mais logo depois de comer. Te bate aquela sensação de
fraqueza... Dor no corpo.
Me deixa, doença.
Ah, não deixo. Daqui até domingo: só eu e você. E quem sabe uns dias
mais? Quanto menos cê dorme, mais eu aperto. Esse é o nosso jogo. Cê não pode
dar mole nem nos quarenta e cinco do segundo tempo.
Cê me fodeu, cê sabe disso. Sabe disso.
Para de baixar o nível, Bio! Só tem a gente aqui nesse quarto. No
máximo cê tá ouvindo um barulinho lá na rua. Um ônibus, um caminhão... Esse
mundo todo aí fora e só eu e você aqui dentro. É a solidão, né? Nessas hora,
até a doença parece gente boa.
Não, nem assim. Nem de longe! Sai, sai da cama, vai!
Ai, ai! Não me derruba, que mal educado! Que absurdo! Doeu.
Cê vai sofrer também, maldita.
Dá nada, não. Eu espero só dez minuto depois que cê dormir – e te
acordo com um nó na garganta! Hahaha!!
Caio Bio Mello
29/05/2013
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