Sinto, no fundo de meu coração,
que as coisas fazem sentido.
Se me perguntassem,
não conseguiria explicar a razão.
É que agora, nesse exato instante,
o mundo parece girar para o lado certo.
As pequenas fibras da existência
parecem unidas por uma mágica indizível.
Esse sentimento passa além de mim mesmo.
Vai além de meu corpo cansado e doído,
além da correnteza de sentimentos que
quase me afogam.
Para fora de meus olhos lunáticos
e de minhas lentes de vidro,
tudo parece numa irremediável harmonia
que não poderia ser contestada nem pelo meu sofrer.
E isso me alegra de um modo singular.
É como uma alegria fora da casca,
ouvida pela parede do ovo.
Uma alegria de existir.
Sinto como se eu tivesse perfurado
algum tipo de membrana
que separa o mundo comum
de um outro mundo, paralelo e poderoso.
Nele, as coisas andam às mil maravilhas.
Fogos de artifício explodem pelo céu,
crianças dançam alegres em praças,
idosos jogam dominó à beira da praia.
E não é só um ver e sonho.
Essa sensação vem da minha carne.
Vem de dentro.
Ironicamente, sinto dor e alegria.
Dor da minha carne doente.
Mas, nesse mesmo corpo ainda enfermo,
uma linha possante desregula minhas sensações.
Essa estabilidade em abstrato.
Sinto que meu sangue carrega algo
que pode mudar o planeta inteiro.
Sinto milhões de pássaros alçando voo
em meus braços e pernas.
Estou maravilhado.
E não sei dizer por que.
Caio Bio Mello
31/05/2013
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