sexta-feira, 31 de maio de 2013

Metáforas sobre a Influenza - Quarto dia



Sinto, no fundo de meu coração,
que as coisas fazem sentido.
Se me perguntassem,
não conseguiria explicar a razão.

É que agora, nesse exato instante,
o mundo parece girar para o lado certo.
As pequenas fibras da existência
parecem unidas por uma mágica indizível.

Esse sentimento passa além de mim mesmo.
Vai além de meu corpo cansado e doído,
além da correnteza de sentimentos que
quase me afogam.

Para fora de meus olhos lunáticos
e de minhas lentes de vidro,
tudo parece numa irremediável harmonia
que não poderia ser contestada nem pelo meu sofrer.

E isso me alegra de um modo singular.
É como uma alegria fora da casca,
ouvida pela parede do ovo.
Uma alegria de existir.

Sinto como se eu tivesse perfurado
algum tipo de membrana
que separa o mundo comum
de um outro mundo, paralelo e poderoso.

Nele, as coisas andam às mil maravilhas.
Fogos de artifício explodem pelo céu,
crianças dançam alegres em praças,
idosos jogam dominó à beira da praia.

E não é só um ver e sonho.
Essa sensação vem da minha carne.
Vem de dentro.
Ironicamente, sinto dor e alegria.

Dor da minha carne doente.
Mas, nesse mesmo corpo ainda enfermo,
uma linha possante desregula minhas sensações.
Essa estabilidade em abstrato.

Sinto que meu sangue carrega algo
que pode mudar o planeta inteiro.
Sinto milhões de pássaros alçando voo
em meus braços e pernas.

Estou maravilhado.
E não sei dizer por que.

Caio Bio Mello
31/05/2013

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