sábado, 26 de março de 2011

Bares, rodas e palavras

A intangibilidade semântica dos costumes.
Nós, eles e todos.
Regras falhas de descoesão que nos juntam
subjugam e não fazem valer.

As palavras.
Que têm elas por dentro?
Talvez nada,
talvez mero jogo de símbolos num nãodizer maior.

Eu não digo nada.
É tudo um jogo, simples jogo.
E tudo fica só fachada
indo de porta cada em cada.

Homencaco pedaço de vidro
homemacaco dançando
ao som do tamborim
assim assim assim.

Não sabe quem ele é
nem de onde vem
nem pra onde vai.
Sorrir sabe bem.

Sorri, faz gestos,
agrada o povo
todo mundo aplaude
e joga moedas.

E o Oceano sempre
a nos olhar, sério.
Costa ébria manchada
de fundo negro. Pré e pós.

Norte sul a lesto oeste
tudo a mesma peste
vontade de ser
e deixar sendo.

No coração talvez um vazio
um não sei o que
que vem não sei de onde
que me acorda no meio da noite.

Já não durmo mais.
Não há como dormir.
Na rua, pleno domigo,
serras e caminhões.

Barulho metálico
e piadas na frente do bar.
Algumas crianças chutam bolas rasgadas
na lataria de meu carro.

Eu finjo não ver
elas fingem inocência.
Querem transgredir.
Querem fazer palavras novas.

E me provam que aqui não se diz nada
não se ouve nada
e tudo se mistura.
O lirismo das coisas mistas.

E meu coração arde-me o dia inteiro
não penso não penso não penso
fico num bolha finestra
olhando o povo passar. Passo também, percebo.

Sinto-me mutante, desnecessário,
afogado em algum líquido
que me parece muito
com o ar.

Respiro. Respiro? Acredito que sim.
Uma buzina rasga o céu.
O laranja vai regredindo,
sobra um breu. Sobro eu.

As palavras começam a me negar
significados.
As cores começam e se misturar
com as coisas.

Perco-me na realidade numa velocidade
impressionante.
Preocupo-me com o grau de descoesão
que estou atingindo.

Estou chegando a deslimites perigosos.
Seria condição minha?
Seria condição social?
Nasci descoeso ou tornei-me descoeso?

Não encontro mais respostas
tudo o que me vem
são milhões de perguntas
e uma maior que todas.

Uma que me explode
que me devora
que, se elucidada,
talvez não faria tanta diferença.

Muita coisa faz diferença,
mas hoje fica difícil de ver.
Talvez amanhã.
Talvez amanhã as palavras voltem a ser como antes.

Por enquanto,
segue o desmontado desleixo.

Caio Mello
26/03/2011

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