Ao longo da vida,
nos encontramos por diversas vezes.
Damos voltas. Eu no compasso, você no contratempo.
A nossa harmonia dissonante no fundo do oceano.
Eu queria te falar,
te contar dos meus
momentos.
Mas meu coração me
proíbe.
Ele, pobre, anda
inchado de doenças.
E meu lá menor continua
batendo.
Lá em perto do entre
nós,
com o dó que tive de
mim.
E como não teria?
Os olhos marejados... A
areia entre os dedos.
Eu queria poder dizer,
poder falar.
Mas não há quem diga, nem quem encontre.
Pois, então, presenteamos: estamos. Momento.
Apenas mais um hiato. Conte o tempo.
Eu subo oitavas enquanto você desce escadas.
Queria poder dizer que você não existe.
Meu desejo mesmo é contar que nada disso nunca aconteceu.
Imaginemos,
então, a falha de tudo.
A boca
frouxa, a mente fraca.
Desdenhamos de tudo. Este
certo segredo
oblíquo
que me apareceu
sereno
como a noite.
E de memórias jamais viveremos.
Como num
simples desestar intermitente.
A
minha alma
peixe frágil
recém
capturado por um anzol qualquer.
Então é passado. Preterimo-nos. Um futuro envidraçado.
Que engraçado...
Quisera eu poder dizer da vida.
Nem se tem por que
viver
se no dia dessa noite
me foi lá um maremoto
retomando o
turbilhão.
Eles jamais pensarão
nunca, nunca vão
saber
o que era de mim
remoto
o que de nós o
foi-te.
Pretendia. Preteria. Pretenderia. Pretredremos...
Jamais.
E, lá, depois do cais:
há um mundo para se ver.
O que se arde sem perceber.
(e o que há para se calar).
Perdoa-me se te devoro.
Sou devedor de ti
mesma,
a última súplica do
último grito
do último homem no
último mundo.
Jamais
saberei.
Ir, enfim.
Adiante.
Como se adiantasse passar um pé depois do outro,
ou subir o muro
ou
cair no morro
ou sumir no mundo.
Universo: tacanho.
As duas mil correntezas que passamos juntos. O frio, o
calor.
A falta de ilógica, a perda de sentido trazida pela perda de
nós mesmos.
Eu
te vejo agora. Posso sentir muito bem os seus olhos. São como um peso. Sim. Um
fardo. Pesa-me em mim hoje o que você é. Perdi-me em tendências, motivos para
justificação. Mas nada me justifica nada. E nem deveria fazer sentido. Giramos
pelos ares. Sinto os acordes ressonando em minha alma. Eu salto. Você, um
sustenido perdido na minha escala feita apenas com notas justas. Dissonâncias
ecoam enquanto minhas guelras buscam oxigênio dentro do aquário sem bolhas. Faltam-me
substâncias. Agora, estamos. Ontem, estivemos. E enxergo no fundo dos seus
olhos um ar de infinito... Como se a minha âncora jamais pudesse tomar porto em
canto desafinado algum. A areia move-se. Mais uma carcaça de navio esperando a
deriva do oceano tornar fecunda sua estaticidade.
E
somos assim todos.
Mas
não eu e você. Você é diferente... Você não existe. Nem nunca existiu. Nem
deveria ter existido. Porque a existência é obrigação das almas mais exigentes.
Mas você nunca existiu nada. Ou exigiu demais?
Hoje já nem sei.
Não sei nem mesmo se deveria ter
sabido.
Sinto-me no mar salgado, batendo
contra as rochas.
As ondas? Que se percam em minhas
harmonias.
Em voltas
e
voltas
e
voltas
e
voltas
e voltas
e voltas
e voltas
nos vemos de novo.
Caio Bio Mello
03/11/2013
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