segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Amar também os espinhos




À memória de Napoleão e Renan

Entre as pétalas das rosas,
encontro-me novamente perdido.
Lá está a morte: secando meus olhos e se afundando em mim.

Entre séculos e anos perdemos a vida.
Como ter certeza ao invés de ter medo?
Sinto frio, muito frio.

Há pouco tempo. De fato, muito pouco.
Não temos mais minutos, momentos e sorrisos.

De novo: balas e doenças e sonhos e solidões.
Pedaços de minha alma se desfazem aos poucos.

E o bafo quente da realidade tapou hoje meus poros.
Não pude chorar. Não pude acometer-me, sofrer.
O tempo não nos permite.

Os sentimentos permanecem encaixotados em pequenos conteúdos,
cada qual em seu mundo. Para mim, a Morte.
Circundando-me a vida, alheia ao meu sentimento.
De volta à enfadonha labuta. É necessário.
Sentimentos não são divisíveis: são devoráveis.

Sofrido, me ergui em segundos. Milésimos.
Eis que não percebem meu subterfúgio de insanidade.
Jamais saberão ler a verdade de meus olhos,
afogada por lentes míopes numa miríade de mentiras.

Sofro a morte de gerações passadas e futuras,
a manutenção de buracos em minha existência
que jamais poderão ser novamente preenchidos.

Mas, pelo menos por este momento
(nem que ele dure os poucos minutos de um poema
sufocado pelo cotidiano agressivo)
vou me deixar sofrer. Suspender o universo.
Vou me despir de minha armadura de aço, mostrar meu corpo
fraco e dolorido. Sim. Permitirei que a poesia me domine,
que ela seja o maior entorpecente já encontrado.

Nesse exato momento, eu vou me dar ao luxo
de poder velar pelos meus mortos.

Caio Bio Mello
18/11/2013

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