Entrelaço meus dedos
com os dela.
Giro levemente meu
pulso.
Conduzo-a.
Ela sou eu. A minha
melhor parte.
A mais doce, mais
forte, mais crescida.
Sou apenas ramo da
árvore frondosa.
Sua pele macia
alimenta meus dedos.
Tenho certeza de que
existo,
posso sentir o
significado que devemos dar ao mundo.
E, sereno, danço.
Aproximo-a ao meu
peito
para que possa sentir
seu coração forte.
Ele me embala em suas
batidas,
afoga meus anseios
e me vela pelo mar.
Seu corpo, de todo
frágil, é forte.
Minha sobrevivência
basilar,
o pulsar mais forte
de meu universo.
Sou infinito. Perco
meus limites entre meu corpo.
Ela, tão próxima, tão
vivível.
Deixo de ser uno.
Partilho uma falta de limites.
Posso ver seu todo
esculpido
nas manchas tristes
de sangue.
Elas choram os
sentimentos das artérias,
abandonam a carne a
qual me agarro.
Ela me admira:
confiante.
Mais do que admirar,
desafia-me.
Ela me puxa para
perto, para si.
Meu corpo ganha cor.
Estou vermelho.
Morremos a valsa da
vida em sete acordes.
Sua respiração começa
a ficar ofegante.
Estou ofegante
também, meu coração dispara.
Preocupo-me. E o
futuro? Como será?
Mas ela desdenha de
meus medos. Ri de minha angústia.
Segura meu queixo com
seus dedos delicados.
Posso sentir que há
firmeza na vista.
Mas seu pulso já
começa a perder a pegada.
Ela continua a me
puxar, a me empurrar.
Então, agarra-se a
mim.
Posso ouvi-la gemer
quase tão baixo
quanto o bater de
asas de um beija-flor.
Seu último reflexo
aperta meu pescoço.
Aproxima-se de mim,
seu corpo revolto
e desconexo acaba-se
em mim.
Quanto mais me agarro
a ela, mais a perco.
Meu desespero esvazia
minha certeza.
(mas é no grito que
realmente amamos)
Instantaneamente, seu
corpo todo se liberta.
A força termina, mas
o gosto permanece.
O gosto doce do
inverno morango ao matarmos o frio entre nossos corpos.
Ela se desfaz em meus
dedos. Sua existência parte à mingua.
Em segundos, a mulher
de meus desejos transforma-se em cinzas
que escorrem por
entre minhas garras ainda sedentas.
Não posso detê-la.
Ela se vai como pode, sem aviso.
E nunca mais mais
lábios terão o mesmo peso,
nem minha língua terá
o mesmo gosto,
nem meus braços terão
a mesma volta.
E a vida perde, de
supetão, todo seu significa mais profundo
enquanto suas cinzas
dançam na queda helicoidal dos desencontros.
Caio Bio Mello
06/11/2013
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