Sinto uma civilização inteira
movendo-se dentro de meu peito.
A realidade forma-se, refazendo meus sentimentos.
Essa intranecrópole me assusta.
Gigante, disforme,
Grotesca e profunda.
Impossível conhecer a mim mesmo.
Não sei me categorizar,
detalhar minhas angústias nem dialogar com meus sonhos.
Estático, respiro. Minha mão fixa.
Posso sentir o mundo inteiro se revirando.
Eu ouço a carne dos séculos se comunicando.
E tenho certeza de que não sou ninguém. Um nada.
O meu próprio mundo é feito de fogo,
ferro, sangue, luzes,
loucura e terra.
Ouço: o nervo do lobisomem berra
e eu fico no medo de
entrar no jogo.
É na ponta da cartola do engodo
que vivo o quotidiano
de guerra.
De novo, é o crânio mole que berra
o seu grito bem forte e
demagogo.
Lá permaneço: entre moitas e mortos,
ou entre cadáveres e
outros corpos
que jamais vão me explicar quem sou
eu.
Quem sou? Um idiota de
versos tortos
esperando chegar em outros portos,
mas que, fundo no
fundo, já morreu.
O meu túmulo de mim mesmo.
Minha colossal cidade fantasma.
Minha colossal cidade fantasma.
O conceito mais basilar de mim desconheço.
Há algo enorme que falho em explicar.
Não consigo captar, nem me repreender.
Tenho medo. Muito medo.
Aquela paura enorme que entra pelas frestas de nossas
janelas,
que mastiga nossos sonhos de madrugada.
Acordo suado. O corpo coberto de loucura.
Eu deveria estar vivo?
O colosso bestial da humanidade.
Dentro de cada um, segredo.
Recôndito universo de fluida interação
entre o eu-fático e o eu-nunca.
Não nos expliquemos se não há o que se
explicar.
É melhor dar tempo ao tempo e chance à chance
e responsabilidades aos responsáveis
e amor aos adolescentes
e ódio aos velhos.
O mundo
é seco e antigo.
Além disso,
o filho da puta
não faz sentido.
Então, por isso, me deixo.
É melhor assim.
Entre os espinhos e as angútias e os rancores
e as solidões viverei. Talvez nostálgico das pessoas.
O Einsamkeitgeist me assusta. Eu tremo por dentro,
minhas costelas perdem o prumo e o rumo e a certeza.
Um grande show e uma saraivada de tiros ao fim da noite.
Vermelho. Imerso em meu próprio ser, perdido em minha
existência
afogado no estar no mundo e cego de cosmovisão.
Eu sou. Com toda a
mente e toda a alma e todo o mundo.
Eu sou e tudo é. Eu sei disso.
Veio-me à mente a intuição enquanto tirava um simples choro
de café
da máquina morta e esquipática, mas que me gera bons
fluidos.
Eu sou, meu Deus,
eu sou. Estou sendo neste exato
momento.
E a Cidade dos Ossos é admirável. Distante. Intocável.
Malévola. Infinita. A Cidade dos poehumanos, a poiesis da
carne
na eterna criação de todos os seres.
A espuma da Criação vazando em nossas lágrimas,
em nosso suor, em tudo. Na ponta de nossos dedos.
A civilização continua revolta. Agressiva. Impetuosa.
Mais e mais e mais e mais e mais e mais e mais voltas
repetem-se em mim.
E, a cada volta, sou um homem novo.
E feliz.
Caio Bio Mello
09/11/2013
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