Resta na boca
Aquele diálogo mal elaborado
Um sabor ácido de vida
Na madrugada
E os olhos abertos
Que não se calam jamais
Fica uma dor nas costas
E o frio da noite
Que come o mundo
Como num pesadelo
Os olhos me perseguem
Me perfuram
E misturam-se
Com milhões de olhos diversos
A memória (profana)
De algo que já não existe
Nem deveria existir
A sete palmos de terra
Enterrei a mim mesmo
Fechado a sete chaves
Para nunca mais viver
Os sete dias da semana
E, mesmo assim,
Retorno eu mesmo
Cada dia mais doente
Cada dia mais dolorido
Mas ainda vivo
Impressionantemente vivo
(Porém manco)
Perco-me por milênios
Em buracos-negros
Galáxias desconexas
Impossibilitado de sentir
Mas ainda preso ao desejo
E agora ligado à solidão
O silêncio de mim
A paura da noite
A boca fechada
Os olhos míopes abertos
Encarando o teto preto
Na busca por algo
Que não vem
Não chega, nem retorna
Abafando-me em preocupações
Sem fim
Questiono-me, já sem fôlego,
Se haveria trégua
Talvez meu peito
Parasse de arder como arde
Quem sabe, ser pessoa normal?
Ao menos uma vez
Para desvendar este sabor
O gosto do cotidiano!
Mas não...
Sei que esse dia nunca chegará
Ele não existe
Existem meus olhos
Que continuam abertos
Caio Bio Mello
21/05/2014
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