quarta-feira, 21 de maio de 2014

Apalpebral

Resta na boca
Aquele diálogo mal elaborado
Um sabor ácido de vida 
Na madrugada 

E os olhos abertos
Que não se calam jamais 

Fica uma dor nas costas
E o frio da noite
Que come o mundo 

Como num pesadelo
Os olhos me perseguem 
Me perfuram 
E misturam-se
Com milhões de olhos diversos 

A memória (profana)
De algo que já não existe
Nem deveria existir 

A sete palmos de terra
Enterrei a mim mesmo
Fechado a sete chaves 
Para nunca mais viver 
Os sete dias da semana 

E, mesmo assim,
Retorno eu mesmo 
Cada dia mais doente
Cada dia mais dolorido 
Mas ainda vivo 
Impressionantemente vivo
(Porém manco)

Perco-me por milênios
Em buracos-negros
Galáxias desconexas 
Impossibilitado de sentir 
Mas ainda preso ao desejo 
E agora ligado à solidão

O silêncio de mim 
A paura da noite 
A boca fechada 
Os olhos míopes abertos
Encarando o teto preto 
Na busca por algo 
Que não vem
Não chega, nem retorna 
Abafando-me em preocupações 
Sem fim 

Questiono-me, já sem fôlego,
Se haveria trégua
Talvez meu peito 
Parasse de arder como arde
Quem sabe, ser pessoa normal?
Ao menos uma vez 
Para desvendar este sabor
O gosto do cotidiano!

Mas não... 
Sei que esse dia nunca chegará
Ele não existe 
Existem meus olhos
Que continuam abertos 

Caio Bio Mello
21/05/2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário