O
corpo se desfaz em uma miríade de sensações. A alma e a mente, unidas numa
única realidade, como se o tudo pudesse, finalmente, ser o nada. A verdadeira
explicação de tudo através de não se explicar o que não merece ser explicado.
A genética dos versos, evoluindo
pela seleção natural dos leitores. Diversas mortes, espécie ameaçada. O silêncie
sepulcral da noite, numa breve tentativa de esquecer que a metrópole jamais
parará de rugir.
A carne, também, como mero invólucro
desnecessário de algo que sequer existe. Como se a existência tivesse qualquer
sentido, como se ela partisse de um lugar e chegasse a outro, como se ela
quisesse dizer algo.
A mediocridade.
Tentando amoldar-se ao mundo. Dar
continuidade, conexão. Tentando provar algum sentido naquilo que, na realidade,
é o puro caos. A raça mais evoluída da loucura. Não ter consciência da própria
existência é aceitar plenamente que as coisas não fazem sentido.
O ser humano, pobre animal, e seu
desejo imbecil de colocar ordem em tudo. Buscam-se padrões, organizações,
métricas... E isso causa uma angústia assustadora no peito das pessoas, na alma
de quem vive. Viver é estado pleno de querer ser mais, mas aceitar a mera
condição do vivo.
O mercado rentável da falsa alegria.
As famílias estereótipos, meras projeções planas, claramente díspares do mundo
real. O choro escondido. Os gritos aos poucos, presos dentro de pulmões que
insistem em não admitir.
A desnecessidade – tão relegada a
segundo plano! A praxe da ganância, do desejo irrefreado por aquilo que pode
ser mais ou mesmo deixar de ser. E os corpos, enfileirados, sequenciados,
enumerados e tarifados. Sequências e mais sequências de pessoas que sofrem o
mal coletivo da indignação profunda, sem mesmo saber do que sofrem. Sofrem por
dentro, no recôndito momento dos domingos à noite.
Os questionamentos. As pálpebras que
se recusam a se fechar. Olhos abertos encaram o nada. Imensidão vazia. Sonhos
murchos, perdidos, enterrados no cotidiano que esgana crianças e esquarteja
adultos. E os sobreviventes, já idosos, enumeram os momentos que deixaram de
aproveitar ao longo da vida.
Mas existe a necessidade. A
obrigatoriedade. E, sem ela, não há quem viva. Porque segunda feira estamos
todos de pé. Ao raiar do dia, calçamos os sapatos, entramos no ônibus e nos
deixamos balançar por diversas ruas congestionadas. E não há quem negue, quem
não faça, não há quem não precise.
Porque todos precisam de algo, todos
buscam um sonho e um medo. O sonho, para que possam seguir sem se deprimir. O
medo, para que possam se sentir ameaçados o suficiente para não parar.
Há momentos de ilusão, há momentos
de tristeza e há momentos de descoberta. A alegria permeia todos os elencados,
em seus meandros, em suas veredas, em suas dobras. O barco de papel navega seus
poucos segundo logo ao lado da calçada. E o menino que uma vez existiu? A vida
que se passou? Resta o barco, o homem perece.
Tal é a função do papel no mundo. A
celulose, hoje já pseudorrenegada, em busca de uma nova função para povoar a
mente dos indivíduos. Mas eles já não amam.
Já não querem, não buscam, não
desejam. Repetem a história de seus antepassados, reincidindo em erros e
ignorando os acertos. Cabeças vazias balançando perdidas ao vento. Nada ecoa.
Estão presos.
Caio
Bio Mello
11/05/2014
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