sábado, 17 de maio de 2014

Oculovérico



No final da montanha
e no começo do rio
onde os destinos se encontram
jaz um corpo.

Um cadáver semilúcido de um ser
já não mais sendo
que se deteriora a olhos vistos.

Ali, sem alimento nem aconchego,
permanece cadavérico.

Os animais carnívoros não têm mais apreço
pela sua carne que cada vez mais piora.
Agora, habitam seu corpo
ninhadas de insetos,
no banquete mórbido do pós-vida.

Assim, seguro e insano, ele permanece.
As crianças não gostam de se aproximar dele.
Os velhos lembram do indivíduo que o cadáver
fora em seu tempo movente.

E, numa manhã qualquer (quem sabe?),
no silêncio que descende do orvalho,
o olho esquerdo – o único que ainda resta semiíntegro –
teima em se abrir para espiar como o anda o mundo.
Na sua tristeza, volta a se fechar com o derradeiro pensamento
continua tão horrível quanto antes.

Caio Bio Mello
17/05/2014

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