sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Perdoa-me

Perdoa-me.
Minha alma é, de fato,
rasgada em mil pedaços.

Eu sou uma colcha de retalhos,
a união de infinitos desencontros.
Não pertenço ao mundo como deveria.

Nem de perto é um sucesso.
Pura incompletude. Não poderia sequer me definir.

Não posso prometer-te que evoluirei.
Aquilo que jaz em mim é como erva daninha
que brota sem meu consentimento
e entumece em meu peito.

Por mais que eu me sufoque,
ainda que eu busque banir esse mal
que em mim há – eu perco.
Isso penetra em meus meandros,
comanda meus sentimentos
e dobra minha visão de mundo.

Eu jamais vencerei. Estou preso,
soterrado, nesta minha caixa de Pandora virada ao avesso.
Eu oscilo. Existo, coexisto e inexisto.

Sou uma pequenez. O parco sopro
de uma criança que passa frio e fome na cidade à noite.
Eu não poderia crescer, jamais.

O lince.

Sou um menino e, por trás de meus olhos míopes,
ainda guardo meus medos (do escuro, da solidão e do frio).
Amarraram-me ao crânio os espinhos da neve
e nem o rouco escarlate pôde inibir minha rajadez.

Meu coração, entre sístoles e diástoles,
nunca aprendeu a bater na cadência que a vida lhe impunha.
Entendes? Eu, um erro ambulante,
a perpetuidade de um deslocamento.

Eu sou poeta e não aprendi a amar.

Esse fraco impulso de vida, o adormecimento de meus braços
e o lépido engodo (a ironia do comodismo)
de pensar que progredi.

Involuí.

Por isso, peço que me entendas.
Não são simples meus motivos,
há flores em meus olhos e não posso despistá-las.

Sou um escravo de mim mesmo.
O paradoxo da liberdade do social consumo,
mas a paninstrospecção como tudo que me resta.

Não te peço que concordes, nem que desdenhes.
Apenas... Simplesmente,
peço que perdoes.

Caio Bio Mello

04/12/2015

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