sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Meus insetos

Insetos povoam meu corpo.
Eu os ouço e repito.
A aranha em meu crânio,
que caminha sobre meu cérebro.
            Não há dor, com certeza não.
Mas posso senti-la.

Ao respirar, teias em meu pulmão.
                        Uma tosse seca.
            Um besouro sommelier prova meu sangue.

As vísceras do caos, intrapartidas.
Sinto a ruptura de mim mesmo,
agora, gesto a peritonite do desgosto.
(quanto tempo ainda me resta?)

O estômago forrado por vespas raivosas.
Todas ferroando-me por weltschmerzen.
 Um gosto ácido sobe à boca. Gastrite.
            Nada me alimenta, tudo me devora.

Por trás dos globos oculares,
                        as formigas teimam em repassar vídeos
daquilo que nunca vi, mas gostaria de ter vivido.
Vivencio o sonho inconcreto em voltas cada vez mais dolorosas.

Aquele silêncio. Aquele olhar. A recusa.
Minhas tripas são feitas em sequência ilógica e incompleta.
Abrissem-me os médicos, abismar-se-iam.

            As larvas deslizam por tudo. Me devoram ao engordar.
Porém, jamais chegam ao estado borbólico, morrem abafadas
            subcutaneamente. Não as culpo – o mundo é nefasto.

No palato, vive um escorpião,
que teima em ferroar minha língua a cada frase de efeito,
                        a cada prazer no verbo.
Saem-me palavras oblíquas.

Todos esses seres podem conviver comigo.
Não me importo. Nada que me impeça de existir.

Mas há um que me corrói, que me verga, que me devora.
Desse inseto eu não posso vencer.

Ele rasteja fora da carne. É inefável.
Uma quimera de solidão, angústia e insensatez.
Um parasita persistente, que vence qualquer vermífugo
ou ideia brilhante.
Este... é o verme da alma.

Caio Bio Mello
29/01/2016

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