Quem
és tu, então, oh pássaro?
És
passado, presente ou deletério?
Jazes
em minha janela.
Sepulto indiferenciado em desclaustro
(a
morte nunca foi tão dúbia)
Vai,
voa para tua terra.
Ornitópolis
– despropositada existência em meu vidro.
És silêncio, erro,
nefasto.
Ave
de penas cromatocráticas.
Que
desejas? Não vês que estou moribundo?
És o presságio lindeiro.
Posso
ouvir-te. Tu, que me conheces tão bem,
onde
estiveste esses anos longos?
Banha
outra janela com tuas multicolores.
Teus olhos de rapina. Ave, afã,
monstro.
Queria
eu saber de outro ofício, de outra vida.
O desterro e o destripo.
Posso
ouvir-te bicando meu sepulto.
O verdadeiro desassossego.
Não
biques meu cadáver, age com respeito!
Larga-me,
vá. Não busques em mim o que não encontras em ti.
Não vou te responder, nem te apoiar,
nem te alimentar.
És necrófago alado.
Desejas
minha carne.
Sinto-me
confuso, engodado. Teu arco-íris é fascínio,
mas teu hálito é pútrido.
Distorço-te?
Não digas ser irreal porque já não saberia mais discernir.
Talvez sejamos iguais, ambos. Tu,
mais que eu.
Teu bico curvo que
dilacera intestinos
e
meus dedos afalanjados de unhas rotas.
Tu
bicas. E eu, do outro lado, arranho a mesma madeira.
Sabes me dizer se eu conseguiria
sair?
Caio
Bio Mello
20/01/2016
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