quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Mundo puído



A vida dissolve-se numa miríade de sentimentos.
Estamos no âmago dos cosmos.
Não podemos ver, não podemos ouvir. Muito menos falar.

Esmorecemos aos poucos.

Perdemos constantemente o que há de melhor em nós.
A beleza, a juventude, o corpo.
Tudo tende ao caos. Nosso físico tende ao caos.
Nossa mente tende à desordem.
Não sabemos realmente quem somos.

E, além de tudo, há as estrelas cadentes.
Aquela cadência de apertar o peito.
Na madrugada fria, sozinhos, pensamos.
Relembramos.

E nos perguntamos por que.
E, por mais que a lógica nos faça chegar a uma resposta,
nós não queremos realmente sabê-la.
Porque, quando nos indagamos, já sabemos nossa própria resposta.
Sabemos o exato caminho que desejamos trilhar até a pergunta.

Por que, meu Deus? Por que?
Isso não faz o menor sentido. Como?

Permanecemos chocados, pensando no nosso próprio impacto.
Vemos o pior. Sentimos o pior.

E, talvez, as lágrimas mais duras sequer vertam em nosso rosto.
Desejamos vertê-las, porém omiti-las.
Então, o pranto corre para dentro. Consome-nos.

Triste é constatar a realidade circense.
A morte é um espetáculo. A vida, um expurgo inexato.
Todos querem contemplar ambas, sem nunca saber qual é a melhor.

Sim, está morta. A vida tem fim.
Nasceu fadada a um futuro, próximo ou distante, fixo.
Monotonamente premeditada a deixar de existir.
Chocamo-nos por puro medo.

A morte é angustiante.
É uma relíquia pitoresca que ocultamos dentro do peito,
atrás das vistas, por dentro da medula.
Ela sairá, arrancada ou livre.

Seremos pútridas lembranças de dias soturnos,
sorumbáticos, lúgrubes.
Temos medo. Teremos medo.
Medo de tudo, do nada, ao repente.

Talvez a paura repentina
enquanto tomamos um refrigerante
numa pausa durante o trabalho.
Quanto tempo tenho?

Dominar a resposta é ter coragem ou covardia?

Covardes somos todos,
enclausurados nos mais profundos
meandros da nossa carne.

Todos, todos. Todos covardes.
Atos não se julgam, nem se medem.
Não se trata de pulso firme.
Nem de precisão.

Trata-se de perpectiva diversa da comum.
Oblíqua, talvez. Taciturna, porém.
É um toque gélido de imensidão.
Acontece com todo mundo.

Aquele dia, aquela manhã...
Um silêncio sem fim.
Um fim sem fim.
A imensidão ridiculamente rica.

Caminhos? Que se tracem sozinhos.
Que se consumam, que se percam.
Pouca importa se formarem um novo círculo.

A mesmice nos faz perder as cores lentamente.
Perdemos o verde, o amarelo, o vermelho... O laranja.
Ficamos cinza. Ficamos descoloridos.

Sem nunca deixar completamente a terra.

Caio Mello
06/12/2012

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