sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O mundo de brinquedo

É um mundo de verdades.
Completo, pleno, coeso.
Um canto cheio de detalhes
que povoam os sete mares.

Tudo faz muito sentido
as letras todas se juntam.
Mundo, doce, se floreia,
achando tudo brinquedo.

Que se cria do perfeito
nasce mais um imperfeito
e da bruteza da falha
se deseja a perfeição.

Mas quem é o imperfeito
querendo ser mais uma vez perfeito?
Quem é o traço tão desejado
que não pode conter em si as falhas da perfeição?

O erro das coisas
é serem as coisas.
Elas são recheadas de erro,
num mundo de verdades à primeira vista.

E as rachaduras estão também
nos olhos de quem vê.
Esses olhos que envelhecem
e que vão errando ao longo do tempo.

A máquina estuporadora
a que chamamos de vida
brota do imagético
de mentes arquitéticas.

E pobre, por fim, é o erro.
Este erro esnobe.
Erro-ciência.
Erro-programado.
Erro-acerto-de-conta.

O erro que vai errando ao sabor
do vindouro ignoto
pensando que é acerto.

Imaginemos, então um mundo perfeito. Por nós, o melhor eleito. Permeado do melhor feito, um nó a se sonhar no leito. O que nos é perfeito é também o limite de nossa imperfeição. O paradoxo da verdadeira perfeição imperfeita. Se já soubemos o erro, se já pensamos no certo, se já isolamos o pensar no desterro, se já dormimos de olho aberto.

Temos medo.
O medo quieto.
Aquele silêncio
num momento pouco antes de dormirmos.

Abrimos repentinamente os olhos
estou vivo?
E essa pergunta guarda em si
muito mais do que aparenta.

Guarda todo o construir
metódico das certezas
que procuramos ter
de nós mesmos.

Certeza.
Palavra que guarda em si
rara beleza.
A destreza de não caber quase nada
no silêncio de sua realidade.

A certeza que temos:
o mundo de verdades.

Completo porque parco.

Pleno porque contido.

Coeso porque desfeito.

Eis a beleza da vida.

Caio Mello
07/01/2011

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