Amigo,
Como vão as coisas por aí? Eu sei
que a gente já não se vê há algum tempo. A vida tem sido bastante corrida, o
tempo tem sido bastante escasso... Mas eu queria que a gente se encontrasse de
novo, sabe? Só pra botar um pouco de graxa nas engrenagens. Eu tenho passado
bem, ando fazendo as coisas que tanto gosto. Fiquei lembrando outro dia das artes
que a gente já fez. A gente na minha antiga casa de praia... Todo mundo na
varanda cantando. Aquilo sim que era diversão! As conversas sem fim que a gente
tinha... E falávamos sobre o universo. Era um falar doce sobre o mundo. Como se
a gente pudesse discutir sobre o infinito, ver a transparência nas coisas. Era
tudo muito simples. Naquele tempo a gente tinha muito mais em comum, eu acho. Sabe,
eu andei pensando. A vida é muito longa né? Tão sem começo nem fim. Sem meio,
nem direção. A gente via as mesmas coisas na escola, discutia sobre trabalhos,
vivia com as mesmas meninas. Então, era tudo muito igual. Mas aí, acho que as
coisas foram passando. Cada um foi pro seu canto, cada um foi estudar uma
coisa. E a gente se viu nesse meio de tudo, nós dois. Os assuntos começaram a
ficar mais distantes, as palavras já não eram mais as mesmas. As pessoas foram
surgindo, crescendo. Por outro lado, sempre tem aqueles que desaparecem. Eu
admito que fiquei muito feliz porque certas pessoas sumiram do mapa. Tem gente
que marca tão fundo nossa alma, que machuca tão forte nosso coração, que a
gente não quer encontrar nunca mais na nossa vida. Claro que esse não é seu
caso! Aliás... É muito por causa disso que eu to te escrevendo. Porque eu acho
que a gente acabou se afastando. E foi a vida que fez isso com a gente. E eu
decidi que isso não é o que eu quero. Eu quero continuar perto, quero continuar
falando as mesmas besteiras, quero falar sobre a vida e sobre o mundo. Como sempre
falamos. E isso é muito fácil de resolver. A gente marca um barzinho agora,
senta com a galera e começa a dar boas risadas. Simples assim! Já pensou? E,
ainda por cima agora que a gente trabalha, o mundo fica muito mais fácil. Vem
todo o pessoal, a gente bebe alguma coisa, ou vai pra algum lugar. A vida pode
ser feita de fases. Pode mesmo. Algumas dessas fases unem ou afastam as pessoas.
O mundo gira sem fim. Eu, você, todos nós, vamos morrer enquanto as mesmas
ondas vão continuar batendo nas mesmas rochas. Todo o tempo que passamos aqui,
tudo o que fizemos, não vai passar disso. Uma água qualquer numa praia qualquer
(talvez na minha antiga casa de praia) vai continuar lá. E nós vamos apodrecer
debaixo da terra. Então, por que não aproveitamos? Por que não fazemos alguma coisa
fantástica? Eu acho que, por fora, podemos até ter mudado. Mas aquilo que
define as pessoas não muda. Quem somos, do que somos feitos, nunca vai mudar.
Por isso que a gente não pode deixar de se ver. Porque seria um desperdício
estúpido na minha vida abrir mão de você. É uma falta de razão estupenda. Você
me conhece muito bem. Aquele carnaval... Acho que faz uns quatro anos. Você
contou sobre uns momentos legais na frente de todo mundo. Mas depois que tudo
aquilo passou, a gente sentou, pegou uma cerveja, e você me contou de verdade
qual tinha sido o seu melhor momento. Você abriu ali o jogo pra mim. E eu
fiquei super impressionado. Você interpretou muito bem na frente das pessoas.
Até me fez acreditar que aquilo que você tinha contado pra todo mundo tinha
sido o seu melhor. Mas pra mim... Pra mim veio o privilégio de saber mesmo quem
é você. Eu sei quem você é! Eu te conheço, te sinto, te entendo. E, se sei
sobre tudo isso, por que vou te deixar sumir assim tão fácil? E eu não to te
cobrando nada. De verdade. Não acho que cobrar vai resolver qualquer coisa. Eu
sei que você também tem as suas dificuldades, também tem seus momentos ruins.
Eu sei que guarda muita mágoa. Poxa... Toda aquela história da sua família. É
foda. Foda mesmo. Só espero que consiga superar tudo isso. Nós todos somos
fortes, nós todos temos peito de aço. A vida nos prepara armadilhas enormes,
nos faz sofrer sem fim. Mas é assim com todo mundo. A gente tem que conviver
com isso, tem que aprender a lidar. Eu juro que não sei diretamente como você
se sente. Se eu soubesse, eu seria você. Porque tem certas dores que a gente só
sente quando é na pele mesmo. Quando a gente fecha os nossos olhos de noite. E,
ali, sem ninguém pra falar nada, é que a dor vem mesmo. É bem naquela hora que
o nosso peito aperta e a gente tem medo de continuar vivendo. Por isso, eu não
to aqui pra cobrar nada. Eu sei que a sua fase na vida tá te apertando. Mas
também sei que você é muito forte. Uma das pessoas mais fortes que eu conheço.
E que, por isso, vai conseguir passar por tudo isso sem se perder. Eu sei que
você tem pulso firme, que sabe lidar com o circo que virou nossas vidas. Eu nem
queria falar sobre essas coisas fortes. Só entrei nesse assunto pra te mostrar
que eu não vim aqui bater cartão pra te cobrar porque não saiu comigo nos
últimos meses. Não mesmo. A gente é amigo, porra. Por que eu te cobraria? Eu to
aqui pra te fazer um novo convite. To aqui pra te dizer que eu to com saudades.
Enfim... Era mais ou menos isso que eu queria te falar. O que você acha da
quinta-feira da semana que vem? Aquele bar lá perto da minha casa. Me avisa
quando for melhor pra você e a gente acerta a data. Se cuida, cara, por favor.
Abração,
Caio
29/07/2012
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