terça-feira, 3 de julho de 2012

O corvo


Seu corpo é belo.
Suas coxas sujas misturam-se com o pó.
Está enterrada num monte de terra, tecido e olhar.

Suas curvas deslizam vagarosamente pela sala.
O ambiente é escuro.
Pouca luz passa pela janela.

Seu peito arfa suave quando se deita.
Sua barriga alinha-se com o chão.
Ali, esfarrapada.

Entrega-se numa quietude resignada.
Seus cabelos longos esparramam-se ao longo de sua silhueta,
desejando-a toda.

À primeira vista, parece fraca. Delicada.
Mas o primeiro olhar a entrega. Deliciada.
Não se importa com detalhes.

Sua mão é forte, seu pulso, firme.
Abre os lábios e boceja devagar.
Suas roupas demonstram.

Os pés descalços correram muito.
Ela limpa os olhos com as costas da mão direita.
Entrega-se somente a si mesma, resoluta.

Larga suas roupas displicentes num canto da sala.
Anda até o banheiro.
Banha-se por anos.

Caio Mello
03/07/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário